O MENINO DO CARRINHO
O menino empurra, com muito custo, o seu carrinho, onde junta sucata para vender e ajudar a mãe que está doente e não pode trabalhar. Não conhecera o pai e não sabe se o mesmo está vivo ou morto.
O carrinho está apinhado de sucata. É um peso demasiado grande para uma criança de sua idade.
Mas, empurra-o, buscando, dentro de si, mais forças que possui.
Em certo momento, para em frente a vitrine de uma loja de brinquedos. Fica ali, mirando aqueles brinquedos tão belos e que nunca teve. Encosta o seu rosto na vitrine, para melhor vê-los.
O dono da loja, ao notar sua presença, admoestá-lo:
- Sai daqui, moleque. Vai sujar o vidro! Vou chamar a polícia.
Ele sai cabisbaixo, sob o olhar dos transeuntes, sentindo-se a pior das criaturas.
Está quase chegando ao lugar onde vende a sua sucata e ganha uns míseros trocados.
Tem que descer uma ladeira. Mas, como o carrinho está muito pesado, perde o controle do mesmo, que desce desgovernado, quase atropelando uma senhora.
Todo o seu conteúdo fica espalhado no meio da rua. Alguns riem, outros demonstram pena, mas ninguém o ajuda.
Ao ver a cena, o menino começa a chorar alto.
Um senhor passa perto dele e se comove. O convida para ir a sua casa que ficava ali perto.
Os dois caminham certa distância, por fim, chegam à casa daquele senhor.
Na verdade, se trata de um casarão, com um amplo jardim frontal.
Entram e ele lhe revela que mora sozinho; somente uma faxineira vem, semanalmente.
Oferece um lanche ao menino, que o devora com rapidez.
Assim que ele termina, o leva à biblioteca que possui. É muito grande, com muitas estantes, com centenas de livros.
Nota que os olhos do menino ficam encantados com aqueles livros. Então lhe propõe:
- Tenho aqui livros que comprei há muitos anos. Preciso organizá-los, mas não tenho tempo, pois preciso cuidar de meus negócios. Proponho que os organize para mim e para isso, lhe pagarei uma quantia semanal.
O menino quase não acredita no que ouve. Não precisará mais empurrar aquele pesado carrinho! Aceita na hora!
No dia seguinte, lá estava ele, na porta do casarão.
Aos poucos, aquele senhor foi lhe ensinando a catalogar os livros, colocá-los em ordem.
E o menino adquiriu o hábito da leitura. Passava horas e horas lendo.
Depois que sua mãe falecera, passou a morar no casarão. O homem o adotou como filho e o matriculou no melhor colégio da cidade.
Logo, começou a cursar a Faculdade de Medicina, onde se destacou.
Na formatura, aquele senhor estava presente, mesmo com a saúde combalida. Após a cerimônia, os dois se abraçaram e choraram, juntos de felicidade.
O seu benfeitor morreu pouco tempo depois.
Aquele menino, que puxava aquele carrinho com sucata, havia se tornado um médico de fama nacional.
E veja só como são as coisas: o primeiro paciente que ele atendeu foi o dono da loja de brinquedos...
2003