Um companheiro abandonado
— Vivi grandes aventuras, muitas curvas e buracos.
— Lembro me quando estava em uma concessionária, e ele me viu e depois me levou.
— No começo fiquei um pouco com medo do que viria pela frente, isso, porque eu estava acostumado a ficar parado em um local.
— Mas, gradualmente fui me apaixonando pelo meu dono, fui compreendendo-o,
e entendendo.
— Estive presente em toda a sua vida.
— Quando ele me tirou da concessionária, ele era solteiro, hoje já é casado e com filhos.
— Presenciei várias aventuras dele quando jovem.
— Não imaginem coisas, não são aventuras iguais as que vemos na maioria dos filmes jovens.
— Ele era cristão, me usava como transporte, para levar sua família á igreja. E quem mais necessitasse de uma carona.
— Lembro-me de quando ele encheu o carro de “irmãos” da igreja para irem em uma pizaria, foi muito legal a turma era bem animada!
— Não me usava apenas para levar pessoas aos cultos ou pizarias, mas também para ajudar as pessoas, onde quer que fosse. Lembro de quando ele ajudou a mãe de um amigo que não era cristã a sessões de quimioterapias, esse foi um dos momentos mais emocionantes que presenciei.
— Estive presente quando noivou, sem ao menos namorar, um noivado diferente de que vimos. No seu casamento, fui o responsável por levá-lo na igreja e depois de deixá-lo, busquei a noiva. Levei o casal na lua de mel, um momento marcante na minha vida.
— O tempo passou e fui usado para levar a minha dona ao médico, enfim, o carro teve mais um dono, uma linda criança chamada Lucas.
— Lucas cresceu e sempre guardei os momentos dessa caminhada.
— Crianças sempre tem mais energias que adultos né!?, lembro de ver Lucas brincando várias vezes, muitas vezes ria por causa da sua alegria. Nem sempre foram alegrias, um dia, quando ele estava jogando futebol, errou o alvo e chutou em cima de mim, no para-brisa.
— Doeu!
— Ai, como doeu!
— O para brisa quebrou, o dono viu, e ficou bravo com o Lucas, pedindo para ter mais cuidado.
— O problema foi resolvido rápido, me levou em um lugar que chamam de oficina, e ele deu uma coisa que chamam de dinheiro, ai, ficou tudo certo.
— Sempre estive presente na vida dele, e mesmo assim, ele me trocou por outro.
— É muito difícil a dor da separação.
— Como doí.
— Ainda me trocou por um novinho.
— Como pôde?
— Eu que nunca deixei ele na mão.
— Agora estou aqui nesse ferro-velho.
— Um dia perdi um pneu, no outro a roda e assim por diante.
— Cada dia uma parte de mim, vai embora!!!
— Mas mesmo assim, ainda tenho memória.