Ferrugem ao Sol... BVIW

 

Depois de muitos anos e pausas em paredes das salas, quartos e cozinha, sendo suporte de quadros e calendários, o prego Ferrugem foi recolocado pelo sisudo senhor Martelo, em uma das tábuas do pequeno portão branco, da varanda. Após alguns meses, já apresentando as marcas das intempéries, ele foi transferido para um mourão, sua próxima parada, para prender uns arames que servem para as gavinhas da parreira se fixarem.

 

Para desempenhar melhor sua função, Ferrugem foi entortado e dobrado, aceitando, sem forças, para se rebelar, o seu destino; qual prisão ao ar livre, sem grades, mas com amarras, ele segue seus dias, num silêncio surreal, qual ampulheta sem areia; solitário marinheiro, sentindo o passar dos segundos, horas, dias, enquanto os verdes e frágeis cachos de uvas amadurecem e com doces aromas o envolva...

 

Um vento forte, prenúncio de chuva, faz com que deseje estar dentro de casa ou voltar aquele vidro de compota com apagados contornos no rótulo, em companhia de outros pregos, parafusos e chaves quebradas. Quem sabe, entre eles, será sua próxima parada?

 

. Tema: Próxima Parada