Ana sentou-se no sofá acolhedor do consultório,  que parecia oferecer um pouco de conforto em meio à tempestade emocional que enfrentava. O psicólogo, um homem de olhar gentil e voz suave, observava-a com atenção, criando um espaço seguro para que ela pudesse se abrir.

— Ana, como você tem se sentido desde a nossa última sessão? — ele perguntou, quebrando o silêncio tenso.

Ela hesitou, a mente cheia de pensamentos confusos. Sabia que precisava ser honesta, mas as palavras pareciam pesadas como pedras.

— Eu... eu tenho pensado muito sobre o que discutimos. E acho que preciso ser honesta sobre algo — respondeu, a voz trêmula.

O psicólogo acenou com a cabeça, encorajando-a a continuar.

— Lembra que eu falei sobre a pressão no trabalho e como isso estava me afetando? Bem, não é só isso — Ana revelou, enquanto olhava para baixo, evitando o contato visual.

— Entendo. Pode me contar mais? — ele disse com empatia.

Os olhos de Ana se encheram de lágrimas ao recordar o momento devastador.

— Eu fui demitida há algumas semanas. — A confissão saiu como um sussurro, mas cada palavra carregava o peso de sua realidade.

O psicólogo sentiu a dor dela como se fosse sua. Ele sabia que aquele era um ponto crucial na jornada de Ana.

— Isso é realmente difícil de ouvir. Como você se sentiu ao receber essa notícia? — perguntou ele, mantendo um tom acolhedor.

— Eu fiquei arrasada! Mas o pior é que eu não contei para ninguém. Meu marido acha que ainda estou trabalhando. Eu sinto que não posso contar a ele porque ele já está tão estressado com outras coisas — Ana desabafou, as lágrimas agora escorrendo pelo rosto

O psicólogo percebeu o fardo que ela carregava sozinha e tentou guiá-la através daquela tempestade emocional.

— Essa é uma carga pesada para carregar sozinha. O que te impede de compartilhar isso com ele? — questionou.

Ana respirou fundo antes de responder.

— Tenho medo de decepcioná-lo. Ele sempre acreditou em mim e em minha carreira... E eu tenho medo de como isso pode afetar nosso relacionamento — confessou, com a voz embargada.

A conversa fluiu entre eles, uma dança delicada entre vulnerabilidade e apoio. O psicólogo incentivou Ana a refletir sobre como seria liberar essa verdade guardada dentro dela.

— É natural ter esse medo, mas esconder a verdade pode criar mais distância entre vocês. Como você imagina que seria se pudesse falar abertamente sobre isso? — perguntou ele.

Ana pensou por um momento e uma leveza começou a surgir em seu coração angustiado.

— Eu acho que me sentiria mais leve... mas também apavorada — admitiu, permitindo-se sentir a dualidade da situação.

O psicólogo sorriu gentilmente.

— Às vezes, a liberdade vem da vulnerabilidade. Você poderia começar explicando como se sente sem entrar nos detalhes da demissão imediatamente — sugeriu ele.

Ana assentiu lentamente, imaginando o alívio que poderia sentir ao compartilhar seu fardo. Mas uma nova onda de ansiedade surgiu em sua mente.

— Mas e se ele perguntar por quê? — perguntou ela, os olhos arregalados pela incerteza.

— Se isso acontecer, você pode escolher o quanto quer compartilhar naquele momento. A honestidade pode fortalecer a relação de vocês — respondeu o psicólogo com calma.

Ana começou a entender a profundidade daquela conversa. A pressão interna que sempre sentira para ser perfeita agora parecia uma armadilha invisível em sua vida

— A verdade é que eu sempre tive medo de falhar. Desde pequena, eu era a "aluna perfeita", sempre buscando aprovação dos meus pais... E agora, me sinto como um fracasso — revelou ela com tristeza.

O psicólogo escutava atentamente cada palavra dela, percebendo como aquelas memórias moldavam suas escolhas atuais.

— Essa pressão interna é pesada, Ana. Como você acha que esses medos moldaram suas decisões até agora? — questionou ele gentilmente.

Ela refletiu por alguns instantes antes de responder:

— Eu sempre escolhi empregos seguros, nunca arrisquei algo novo porque tinha medo de decepcionar os outros... e agora isso me levou a essa situação — disse com um tom de resignação na voz.

O psicólogo então lançou uma nova perspectiva sobre aquela dor:

— Às vezes, as maiores oportunidades surgem das dificuldades. Você já considerou o que poderia acontecer se você permitisse a si mesma falhar?

Ana ficou surpresa com aquela ideia. Nunca havia pensado na falha como um caminho para novas descobertas.

— Nunca pensei nisso dessa forma... talvez eu pudesse descobrir novas paixões ou caminhos — respondeu ela lentamente, os olhos brilhando com uma nova esperança.

A conversa continuou enquanto Ana começava a vislumbrar novos horizontes diante dela. O consultório tornou-se um espaço sagrado onde suas sombras começaram a se dissipar sob a luz da compreensão e da aceitação. 

Naquele dia, Ana não apenas compartilhou seus medos; ela plantou as sementes da mudança dentro de si mesma. E enquanto saía do consultório, sentiu-se mais leve do que quando entrou – pronta para enfrentar não apenas as incertezas da vida profissional, mas também as complexidades do amor e da vulnerabilidade no relacionamento com seu marido.

E assim começou sua jornada rumo à liberdade emocional – entre sombras e luzes – onde cada passo dado era uma afirmação de sua força interior e coragem para ser quem realmente era.Chegou em casa e pegando de forma carinhosa a mao de seu marido :

- Precisamos conversar . 

 

 

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 02/10/2024
Código do texto: T8164647
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