A Dama da meia-noite
Sob a nevasca que precede a época mais animada de todos os anos, havia uma jovem dama que penteava seus cabelos negros como a noite. Chamava-se Ofélia, a Dama da Meia-Noite, assim nomeada por suas vestes escuras e brilhantes como o céu noturno.
Certa vez, quando Ofélia tinha 7 anos, ela se pôs a dançar por horas e horas, sozinha, em um pequeno estúdio de balé. Sua família lhe dizia: “Tempo não temos para perder. Pare de sonhar, minha daminha! Pois não somos nós aqueles que podem viver à luz do dia. Nos é cabido somente estar à penumbra da esperança.”
Ofélia chorou e chorou, pensando ser capaz de criar um lago de tristeza, mas, na verdade, não era. A daminha cresceu e seu coração batia glacial em seu peito. Possuía a palidez de quem habita a meia-luz. Perdia-se na confusão de sua mente, nublada pela falta de sonho e aventura.
Cante, Ofélia! Suba ao palco e deixe que percebam a falta que faz um coração. Mostre-nos a desvaria na qual se isolou.
O espetáculo, porém, não pôde continuar, pois um milagre costumeiro estava por vir, como um presente cuidadosamente guardado sob a árvore natalina.
Graciosamente sorrindo para a Dama da Meia-Noite, um príncipe a desejava e a amava. Suas feições esculpidas à mão no mármore hipnotizavam-na e roubavam-lhe a atenção. Ela finalmente se permitiu cantar, em dueto, uma última canção.
"Desfiz-me de meu passado. Não aguardo o futuro. Apenas vivo o meu presente, aquecido pela lareira de minha casa. Abri-o e vieram pequenos flocos de neve para alegrar a casa mais uma vez."
"Dançarei como uma princesa, repousarei como uma rainha. Pois apaixonei-me por um fantasma, que assombrou minha visão. Ele me fez cantar a minha última canção. Meus floquinhos de neve são minha derradeira missão."
Cabelos negros tingiram-se de neve, revelando quantos natais se foram. A voz de Ofélia cansou-se, suas pernas queriam descanso. Os flocos de neve tornaram-se grandes e fortes bonecos de neve, com suas respectivas anjinhas de neve.
Um milagre de Natal nem sempre é o que parece. Um fantasma pode travestir-se de sonho. Enquanto a anciã da meia-luz se despede, percebe que há vários amores à sua volta. Ainda que tenha passado despercebido por todos, Ofélia sabia que este era o seu canto do cisne.