Aquele álbum
Quem vai olhar profundamente nos meus olhos e entender o que eu penso sem eu falar uma palavra?
Quem vai dar um beijaço na rua lotada atrapalhando a passagem?
Quem vai escorregar até o chão encostado na parede soluçando de saudade?
Contar quantas cicatrizes tenho pelo corpo.
Descobrir a intensidade da minha caneta rascunhando o papel.
Saber de cor quem é minha escritora favorita? Que autor me emociona?
Achar engraçado que sinto muita falta quando não vou ao cinema.
Perceber que sou inteira, intensa e emocionada.
Que o tédio é aflitivo e dele tento escapar.
Quem vai perceber que sou organizada e falha?
Estabilizada e instável.
Nada pela metade ou morno me interessa.
Vivo registrando os momentos especiais.
Sou aquela que ama focinhos gelados.
Só eu conheço os motivos das minhas escolhas.
Quem vai descobrir o que me faz sorrir num dia cinzento?
Intuir qual será meu próximo objetivo.
Descobrir que sonho muito e que quando acordo anoto o que lembro?
Tem dia que me sinto plena, forte e cheia de energia.
Tenho momentos que a alma fraturada dói.
O caos me paralisa.
Quem vai comemorar comigo uma conquista muito sonhada?
Chorar junto de emoção.
Enquanto me questiono as mudanças do meu corpo me confundem.
Assustada tento entender as transformações e o tempo que atravessando.
Quem vai me um dar abraço quente com poder de me restaurar?
Garimpo para encontrar a parceria, um tipo de diamante.
Confiança conquistada amarra como laço apertado.
Quem vai me dar colo?
Falar na hora marcada me realinha.
Minha casa é refúgio.
Quem vai perceber que silêncio me restaura?
Que sou grata por estar viva.
Plantei com dedicação cada semente sonhando com a colheita que não tenho certeza que virá.
Em terra firme estou à deriva vivenciando os dias enquanto os meses escorrem pelo calendário.
Será que vou acumular histórias com alguém?
Quem será que conversará comigo com total franqueza enquanto os anos se acumulam?
Fazer doce companhia em silêncio.
Quem vai fazer meu corpo vibrar?
Sintonizados na mesma frequência cardíaca.
Amalgamados.
Só assim poderei assumir que não tenho respostas
Alguém capaz de despertar a vontade de mergulhar no talvez.
Fui forte muitas vezes porque não tinha saída e isso quase me aniquilou.
Pulsando uma mistura estranha de querer, insegurança, desejo, apatia, dor e calmaria escuto de novo e de novo, e mais uma vez o álbum inteiro, na sequência, respeitando profundamente o que a artista criou, saboreando a música suculenta e madura como fruta da época . A sonoridade me invade, a música me encanta, fico inquieta, pensativa e escrevedora.