O que você faria na Faria Lima?

Eu faria uma pesquisa.

Faria, não, estava fazendo ali uma pesquisa sem fins lucrativos.

Acredite quem quiser.

A Faria Lima, como se sabe, é o pulmão financeiro de São Paulo.

Assim como a Amazônia é do mundo.

Coitado do mundo:

Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado, Sertão.

Não vão virar mar, mas agronegócio se der tempo.

Quando o mundo pega fogo, quero dizer uma gripe, a Faria Lima costuma pegar uma pneumonia.

Entrevistava então o zelador de um conhecido edifício comercial da rica e famosa avenida.

Minha dúvida:

“Senhor, esse elevador desce para baixo e sobe para cima ou também é temperamental e anda de lado?”

Ele me respondeu:

“Depende do estado emocional dele, bastante instável sempre que o Banco Central aumenta a taxa SELIC.”

Como a SELIC anual tinha passado de 10,50% para 10,75% na semana anterior, pensei em ficar precavido.

O elevador ainda poderia estar um tanto temperamental.

Comentei com ele que muito pior era outro edifício ali da região, cujo elevador subia e descia os andares de acordo com os índices Ibovespa.

Que, como se sabe também, vinham dando prejuízo para investidores sardinhas por anos seguidos, muito ao contrário da renda fixa, por exemplo.

Só ganhavam mesmo os tubarões do mercado, os impulsionadores de fake news dos negócios.

Isso foi o que ele me garantiu, como se eu fosse mais ingênuo do que aparento ser.

Conversa estava boa, mas tinha de continuar meu trabalho.

Agradeci o zelador, deixei o prédio e, tomei o elevador do edifício vizinho, sem qualquer receio ou preocupação.

Conhecia muito bem sua arquitetura de interiores.

Ali havia muitos escritórios de advocacia.

Onde tem advogado a ordem e o progresso estão garantidos, não?

Eu me informara com o zelador sobre o estado do elevador e seu temperamento.

Se apresentava alguma instabilidade, como ocorria com o do prédio vizinho.

Fiquei sossegado: ele me garantiu que a máquina só endoidava quando o governo tomava alguma medida drástica e eficaz para acabar com a corrupção no Brasil.

Prerrogativa que, fazia tempo, não passava pela cabeça de nenhum iluminado de Brasília, logicamente.

Muito pelo contrário.

Então subi destemido.

Encontrei-me com meus patrocinadores.

E recebi minha devida parte:

o pixuleco que me cabia nesse latifúndio.