A PROVA
Todos conheciam o coronel naquela região. Mandava e desmandava no lugar.
Tinha uma filha, mas não deixava homem algum chegar perto. Só a deixava ir à missa, acompanhando a mãe. Baile ou festa sozinha, nem pensar.
Havia naquele lugarejo um rapaz esperto.
Precisava quitar uma dívida e estava sem um tostão no bolso. Porém, maquinou uma ideia que lhe salvaria daquela enrascada.
Foi até o dono da mercearia, o homem mais rico do povoado, depois do coronel, e lhe propôs uma aposta: se conseguisse passar uma noite com a filha do coronel, a sua dívida seria perdoada.
O merceeiro começou a rir. Estava louco! Se o coronel sonhasse com tal possibilidade, ele o mandaria matar sem dó nem piedade.
Mas, o rapaz era insistente e fez o comerciante aceitar a sua aposta. Todavia exigiu do rapaz uma prova: uma roupa de baixo da filha do coronel. E se não conseguisse trazer tal prova, sua dívida para com ele seria dobrada.
O rapaz concordou; apertaram as mãos e se dirigiu à fazenda do coronel. O merceeiro já cantava vitória.
Antes de ir para à fazenda do coronel, passou em casa, apanhou um saco. Nele havia um chapéu de mágico e uma capa já surrada. Havia também uma caixa, com apetrechos de mágica.
Chegando à fazenda, colocou o chapéu e a capa e disse aos jagunços que vigiavam a entrada que viera para divertir o coronel e a sua família. Um deles foi comunicar ao coronel.
O coronel já conhecia o rapaz e, admirado, pediu para ele entrasse. Chamou a esposa e a filha para assistirem o espetáculo.
O rapaz realizou truques de mágica com o baralho e com a cartola.
Como já estava ficando tarde e o coronel, já cansado, pediu para que finalizasse a sua apresentação. Eram as palavras que ele desejava ouvir: meio sem jeito, disse que seu último truque era bem complicado e difícil. E sem meias palavras disse que iria precisar de uma roupa de baixo da filha do coronel!
Ele, a princípio, protestou, até ameaçou surrar o rapaz. Contudo, vencido pelos apelos da esposa e da filha, encantadas pelos truques do mágico, aquiesceu, deixando que a filha fosse buscar a peça.
Ela a trouxe e, meio sem jeito, a entregou ao rapaz. Era uma peça rendada, comprada nas lojas da capital, com o nome da moça bordado.
Então, ele fez uma série de gestos estranhos, falou palavras incompreensíveis e a peça sumiu!
Faltava trazê-la de volta, mas nada do que fez funcionou. Sem jeito, pediu muitas desculpas ao coronel. Mas ele não ligou muito: já era tarde e queria somente dormir.
Deu uma gorjeta ao mágico e pediu para ir embora.
Na manhã seguinte, chegou à mercearia, chamou o merceeiro num canto e lhe mostrou a prova: a calcinha da filha do coronel.
O homem protestou, amaldiçoou o rapaz, mas se deu por vencido, perdoando a dívida.
Duvidou que ele tivesse passado uma noite com a filha do homem mais temido das redondezas.
Mas, ele estava de consciência tranquila: tinha trazido a prova combinada e passara, de fato, uma noite com a filha do coronel. Mesmo que fazendo apenas truques de mágica.
2003