A Massa (ATUALIZADO )
Estou na fossa, no meio dos detritos, nadando nas fezes e mergulhando no seu mijo.
Tento subir pelas paredes, com as baratas e outros bichos.
O fedor é borbulhante. A massa que vejo flutuando foi feita dentro do seu intestino.
A massa, reunida após um café da manhã reforçado, um belo almoço e um jantar à luz de velas.
Barriga estufada, vitaminas retiradas, só restou a massa que não serve para nada, apenas ocupando espaço dentro de você.
A barriga reclama, a massa quer sair. Corre para trás de uma moita ou, se estiver perto do banheiro, numa sentada na privada, a massa é evacuada.
Está lá mais uma massa, dentro da fossa, procurando um canto para fazer sua morada.
Ela cai com um baque surdo, espirrando o que resta ao redor. Naquele instante, o alívio toma conta, e o peso desaparece do corpo. Você se levanta, quase com orgulho, como se tivesse vencido uma batalha interna. A massa, agora solitária, boia, indefesa, entre tantas outras que vieram antes.
O destino da massa, porém, não termina ali. Com um simples apertar de botão, ela é sugada por um movimento forte , girando e desaparecendo pelas entranhas dos canos, rumo ao desconhecido, ao submundo onde outras massas se encontram e se misturam.
Lá embaixo, o subsolo vibra com o movimento das massas. Um rio subterrâneo, onde cada uma delas é parte de algo maior, uma correnteza implacável de restos humanos, uma fusão de tudo que um dia foi alimento, energia, vida. Agora, são apenas resíduos. A massa, que um dia carregou o peso do seu corpo, segue seu curso natural, sem propósito, sem glória.
A vida, afinal, é um ciclo. Do consumo ao descarte, somos todos parte desse processo incessante, em que tudo entra e tudo sai, onde a massa encontra o seu fim inevitável, apenas para dar lugar a outra que virá depois.
E assim, enquanto lá embaixo as massas se encontram, aqui em cima você já pensa na próxima refeição, na próxima ingestão, inconsciente de que, no final, tudo voltará a ser parte do mesmo fluxo.