A Árvore da Vida
Eva caminhava certo dia pelo jardim do Éden, quando se deparou com uma árvore. Era uma árvore alta, sem folhas com um tronco de madeira avermelhada. Uma árvore muito estranha. Tão logo ela passou a árvore pareceu se mexer, e dirigiu um olhar a ela.
- Mulher, eis aí o teu filho.
Eva ficou sobressaltada. Adonai tinha dito essa palavra uma vez no jardim enquanto passeavam: filho. Era alguma coisa que ela e Adão fariam juntos, alguma coisa relacionada com a aliança que celebravam toda noite. A aliança era boa. Eva presumia que esse “filho” lhe traria muita alegria.
Mas ser chamada pela árvore desse jeito… era algo muito estranho. Adão lhe chamava de mulher, mas as árvores do jardim nunca a tinham chamado por nome algum, nem os animais. Adonai também a chamava de Mulher, mas não era como Adão, parecia que existia algo muito mais carinhoso na maneira como Adonai falava.
- Mulher - a árvore prosseguiu - toma e come do meu fruto, ele foi dado a ti e à tua descendência desde a fundação do mundo.
Aquela árvore medonha lhe assustava. Ela falava como Adão, mas não tinha aspecto humano.
- meu senhor - prosseguiu Eva escolhendo as palavras com cuidado - que árvore és, que me chamas pelo nome dado por Adão? Que chamas a ti de meu filho? Eu e Adão ainda não cumprimos com esse plano. Não é possível que sejas meu filho.
A raíz da árvore pareceu suspirar em um lamento triste. Eva olhou para a raís e sentiu um arrepio. Não sabia porque. A raíz estava invisível. Abaixo do solo. Mas ela sentia uma melancolia profunda.
- Eu ainda não tenho Raíz minha filha. - disse a árvore, como se lesse seus pensamentos.
- uma árvore sem raíz? Nunca ouvi falar de algo semelhante entre as que Adonai plantou.
- Mas eu terei raíz! E essa raíz nascerá de ti.
A árvore pareceu sorrir. Aquele sorriso aqueceu o coração de Eva. Mas ela estava confusa. Então o filho que ela e Adão teriam seria uma raiz? Adonai com certeza fazia coisas espantosas. Ela teve de rir no seu interior.
- Ris porque te parece impossível? Pois eu te digo, minha raíz será a obra que te fará mais feliz.
Eva estava ansiosa por sair dali.
De repente ouviu um sibilar suave. Virou a cabeça. Viu a árvore do conhecimento do bem e do mal. Frondosa, com folhas verdinhas, frutos suculentos e madeira forte e cheirosa.
A árvore feia a interpelou
- Mulher! Antes de ir, prova do meu fruto! Quem come do meu fruto nunca mais tem fome. Quem bebe de minha seiva não tem sede nunca mais.
Aquelas promessas eram tentadoras. Ela deu alguns passos na direção daquele tronco, e percebeu que a voz que chamava por ela vinha de uma coisa nodosa e que pendia da árvore, e da qual gotejava uma seiva muito vermelha.
Ela quase deixou escapar um grito de horror. Aquela coisa no tronco da árvore feia lembrava Adão, mas havia algo tremendamente errado com ela.
- Eu acho acho que eu não deveria estar aqui…
Eva recuou alguns passos. A árvore pareceu se entristecer profundamente.
- minha filha… eu não vou forçar que consumas meu fruto. Ele é amargo, mas é verdadeiro alimento. Será doce aos teus lábios. Eu sou a Árvore da Vida, do Caminho e da Verdade. Se me aceitas… eu sou teu Adonai.
O coração de Eva estremeceu. “Teu Adonai”?
Mas ela já conhecia Adonai. Ele não parecia em nada com aquela coisa feia.
Ela ouviu o sibilo de novo. “Vem! Que meus frutos saborosos dão às pedras sabor de pão onde caírem… vem que meus frutos tem belo aspecto, mais belos que mil auroras do reino do Éden repousando em suas mãos… vem se abrigar a minha sombra… que nunca caíras, minhas raízes são tão amáveis que não fazem tropeçar, mas amparam os seus pés e os pés de teu marido…”
Essas propostas pareciam melhores. Vinham da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Eva ensaiou uma desculpa envergonhada…
- perdão árvore da vida, mas não quero vosso fruto agora. Mas voltarei a ti logo mais, a vida eterna parece tentadora, mas agora tenho algo que me cativa mais.
A árvore feia pareceu se contorcer em dor, e derramar um lágrima. Estaria aquela árvore soluçando ?
Eva correu daquele lugar. Adão apareceu no horizonte buscando por sua esposa. A árvore da vida lancou-lhe um olhar triste. Ele estava longe, mas sentiu a tristeza daquele olhar e apertou o passo.