A Matinta Pereira
Álvaro casado a um ano com Adelaide saiu de férias da Cerpasa, para passear no interior da sua esposa.
Lá chegando, como a remontar o seu passado Belenense ao ver do ônibus, os meninos pulando do taperebazeiro dentro de um igarapé. Disse ele a sua companheira:
- Que saudade da Belém de outrora.A gente fazia assim mesmo no igarapé das almas.
E a moça lhe falou:
- Amor, se você vivia isso lá na cidade. Então você vai gostar daqui.Temos muitos igarapés.
Mais a diante avistaram o vilarejo com as casinhas cobertas em palha preenchidas com barro amarelo, cercadas pela mata, onde a passarada fazia festa com as inúmeras frutas, como um achado do paraíso.
O ônibus que só passava, pelo lugar deixou os dois passageiros e seguiu viagem para outro vilarejo.
Com sua mochila, seu tênis de marca e sua esposa atravessaram a rua e entraram numa das casas, cuja recepção sob o grito de um dos parentes, foi mais ou menos assim:
-Mãe, pai, a Deca tá aqui com o esposo dela...
Aí pronto parece, que mexeram numa casa de marimbondo , que não pode ir ao casamento na cidade vieram cumprimentar os recém casados.
Naquela noite de junho, era véspera do dia de santo Antônio, que sob abraços de boa sorte e muitas felicitações, embora atrasados resolveram comemorar com uma festa na roça.
Então uma comadre arrumou a mesa no quintal, tia Paixão levou Adelaide e Álvaro para tomarem banho, as outras tias da moça se encarregaram das comidas, os tios, inclusive o seu Mimi prepararem a fogueira, avisaram aos cantadores e firmaram os adornos costumeiros. Enquanto a noite, que ali chegava mais cedo, saia com a resenha de uma lua magistral.
A festança começou tal qual a lenha da fogueira ardia no imenso quintal. As iguarias feitas como cocadas, paçocas, mingau de milho , de fubá, pé de moleque, pipoca, bolos de macaxeira, canjica, tapioca, vatapá, carurú e o tacacá, bem como, sucos de bacuri, de goiaba, de cupuaçu, taperebá e uxi estavam a disposição a mesa.
Aquela brisa fria, com essência de mato logo entrou no embalo, quando a banda do miudinho começo a tocar.
Era novo, criança e muitos idosos, cada um com o seu par a dançar o forró sem parar.
A noite foi avançando, o povo comendo, o povo dançando e cansando.
Adelaide felississima naquele vestidinho florido, colado no corpo, a esbanjar formosura se agarava a Álvaro, que juntos pareciam um.
Lá pelas tantas da nadrugada, de tanto comer, Alvaro chamou Adelaide e disse:
- Amorzinho, estou apertado. Acho que comi demais. Onde é o banheiro?
Ela riu descontraidamente e apontou na direção do mato.
Ele olhou e não viu muita coisa e perguntou:
- Amor é sério. Onde é o banheiro?...Tô apertado.
Ela rindo falou:
- Você segue esse caminho, que vai dar na retrete.
Ele questionou:
- Mas o que é isso.
Ela complementou:
- Meu amor é o banheiro...Vá logo.
Ele saiu quase que correndo. Entrou no caminho e saiu em cima de um barraquinho, em madeira, coberto por palha, que ele entrou sem cerimônia.
Dado momento ele ouviu um assoviu:
- fiiiiiiiiti....fiiiiti....
Que logo silenciou.
Quieto a tentar identificar algo, ele recebeu nas costas uma chuva de terra.
Irrequieto com aquela situação, quando ele ia se levantar recebeu uma nova camada de terra. E o assoviu veio mais intenso:
- fiiiti, fiiiiiti...
Aquele momento abalou os nervos, quando uma voz sem rosto disse-lhe friamente assim:
-Vem comigo seu mamo.
E deu um toque no ombro dele...
Sem querer entender mais nada, qualquer que fosse a língua, ele abotoou as calças e saiu nas carreiras de dentro do mato.Passou pulando por cima da fogueira e se agarrou a sua esposa, que perguntou:
- O que foi já?
E ele, nervoso e sem conseguir falar, alguém no meio daquela multidão resolveu o mistério gritando:
- Foi bem a Matinta Pereira.
E o homem acabou desmaiando.