TUDO É MAR
Marília L Paixão
Havia um reino desencantado com sereias desiludidas, mas não de todo desesperançadas. Umas habitavam a parte pedregosa do mar e outras preferiam se esconder junto a recifes de tristezas baldias. Nara, a sereia de bustiê convidativo, ficava a sonhar com maquiagens do primeiro mundo enquanto nenhum violeiro passava. E se ela tirasse o bustiê, será que passava?! Você não vai tirar, vai?! E não é que ela tirava…
Tirava porque seus sonhos não cabiam no fundo do mar e nem mereciam morrer esturricados nas pedreiras mais quentes daquele sol a vista. E se não passasse um violeiro, fabricaria ela mesmo uma viola e assim que brotasse uma nau, escolheria a quem cantar ou encantar, que este é que devia ser seu nome. Já, Olívia dos olhos azuis e escamas frescas, que era sua maior concorrente, desistira de tudo depois que se engasgara com um dente de tubarão.
- Vai desistir da vida por causa de um dente? Desistira. Mal respirava e se enfraquecia cada vez mais, se alimentando cada vez menos.
- Fale para Nara nos representar. E que componha canções que nine a todas, com ou sem bustiê, com ou sem viola, que a vida é uma escola sem nomes e nem há redes para tanto mar.
-Ah, não há não?! Pois bem, Nara teceria redes. Redes, redes, redes e mais redes, até que não lhe escapasse água alguma. Até que o impossível lhe pertencesse.
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inspirado em uma personagem do livro Tudo é rio / Carla Madeira.