Ventos sussurram verdades e ondas lavam saudades
O vento úmido balançava os meus cabelos. À minha frente havia o mar sem fim. Estou no penhasco da minha vida. Corri e caminhei até chegar neste lugar, onde a liberdade está a um passo. Já não sei se a direção importa, mas este é um passo que prometi que iria dar.
Em segundos, estava em queda livre. Acho que a liberdade começa quando não há como voltar atrás, mesmo com o medo e a incerteza do que virá. Só resta-me seguir, pois não há mais passado. Com os olhos bem abertos e lágrimas molhando a face, quero ouvir o que o agora tem a me dizer.
O frio congelante das ondas lava a minha alma enquanto aflige o meu corpo, salgando-o e levando-me embora. A água é cruel, mas descobri que apenas o é para aqueles que a temem. O medo não habita mais em mim, tudo o que me restou foi o vazio, enquanto o restante foi lavado para longe do receptáculo que recebe o meu nome.
A margem traz-me a consciência novamente, mas não sou mais o mesmo. Sou uma nova pessoa cujo rosto permanece igual. Sou mudança sutil que, se não prestar atenção, distancia-me de você à medida que nos aproximamos.
Eu sei que memórias salgadas ainda voltarão. Contudo, só haverá um estranho para recebê-las em sua antiga morada. A pessoa que as viveu nas suas eras douradas já não está mais aqui. Este estranho percebeu, finalmente, que as pessoas com quem compartilhou essas longínquas lembranças já não existem mais também.
Eu não gosto de praias! A areia me suja e o sol me queima. Porém, quando aceito, enfim, seu toque, eles se tornam gentis e me amam em resposta. Não sabia que areia e sol poderiam ser temperamentais! Talvez... a melhor surpresa seja aquela que não se espera. Eu sei que parece demasiado óbvio. Entretanto, fui paradoxal por tempo demais, pois fui humano por tempo demais. E, apesar do sofrimento que acompanha a humanidade, prefiro continuar o sendo, assim como sempre o serei. Isso é demasiado humano, eu sei!
É estranho sentar sozinho e perceber que há pessoas que estão a me esperar levantar. Lágrimas silenciosas tingem-se de prata à luz do luar e escorrem na face salgada de um tolo cujo coração, apesar dos ventos frios, está aquecido por sentimentos desconhecidos.
Mais uma vez o sol se pôs, apesar de não ser como foi um dia. A mudança sutilmente tornou-me outro e , percebi, mudou a eles também, os outros estranhos que estão ao meu lado. No passado teriam se ido, mas agora decidiram ficar. Possivelmente nunca saberei o motivo, e ainda que perguntasse, eles não saberiam a resposta.
A meu antigo eu, meu amor por ti é eterno, mas tenho de deixá-lo partir. Tu já não és meu reflexo, nossos destinos se diferem. Tu iluminaste o caminho até chegar a mim, e por isso sou grato. Adeus! Meu eterno amigo e, para sempre, eu!
A lua no céu oferece sua luz prateada e seu carinho desmedido enquanto o mar se pinta de amor azul e brilhante.
O hoje está se tornando passado, e a promessa do amanhã se aproxima, não sei o que me espera, mas estou ansioso por isso.
Será que as rosas desabrocharão novamente, à medida que percebo que o perfume delas também se torna o meu?