VISITA PARA MIM

Microconto

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Através da grade vi aquela criatura maltrapilha se aproximar, deduzi que era algum mendigo ou morador de rua, pois estava com um saco nas costas onde continha alguma coisa. Já era noite e fria, diga-se de passagem. Ali próximo do portão se acomodou, deitou-se e pegou no sono. Horas se passaram, ele se manteve quieto, apenas tossia de vez em quando. Tinha vontade de ir até ele, mas não podia ultrapassar o meu espaço naquele cemitério, mesmo que quisesse, tinha que permanecer ali dentro e depois voltar para meu lugar de "moradia", que era eterna. Estava ali há mais de cem anos e minha "distração" era ir até a grade olhar a rua, mesmo deserta e só à noite, gostava de ver os vivos esporádicos que por ali passavam, geralmente bêbados ou desafortunados da vida, como esse que daqui eu via.

Me acostumei nessa "vidinha" centenária, adorava sair do meu "cantinho" na tumba e ir olhar a rua deserta, às vezes com lua🌛 e às vezes não, quando a escuridão reinava, mas pra mim tanto faz. Já de madrugada o homem levantou-se e foi embora, eu ali estava ainda, ele era minha "companhia" e que passou a me "visitar" todas as noites, seu lugarzinho ali era certo, era onde dormia. Mas teve uma noite que ele não veio e eu senti sua falta. Na terceira noite eu recebi a sua "visita", dessa vez na parte de dentro do cemitério, então eu o convidei para ir olhar a rua nas noites seguintes, afinal agora estávamos juntos.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 11/09/2024
Reeditado em 11/09/2024
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