LAMENTO
O táxi estacionou em frente ao casarão antigo. Ele saltou e caminhou até o portão. Chovia e fazia muito frio. O estranho usava um casaco de couro e jeans. Seu mocassim tinha sola de borracha e seu andar se tornava mais silencioso. Não fazia movimento.
A chave girou e ele entrou no portão. O Ford Thunderbird 64 preto estava lá. Ele pegou o molho de chaves e encontrou a do carro. Sentou no banco do motorista, abaixou a capota de couro e depois levantou-a. No porta luva um papel dobrado, amassado, e uma velha foto.
"ONDE VOARÁ MEU FALCÃO?"
Dizia a carta, na foto uma moça linda olhando para a janela. Quanto tempo se passou? Ele ainda se lembrava da última vez em que a viu. Despedida, saudades e ela se foi.
Nos veremos em outra vida, moça dos mistérios - sussurrou.
Nesse momento uma lágrima caiu sobre o papel amassado. Suas lágrimas...
Dentro do casarão, tudo organizado. Lençóis cobriam móveis protegendo- os da poeira. Ele andou com calma pela casa.
O que havia mais para ser feito? Nada.
De volta ao Ford Thunderbird, ele girou as chaves e o morto rugiu. Funcionava e tinha um pouco de gasolina. Ele saiu da garagem, olhou para os lados e dirigiu para longe.
Não chorava, não pensava em nada. Só lamentava, a imortalidade era um preço bem alto que ele estava pagando.