O bar.
Estando eu à noite percorrendo as ruas soturnas da cidade, através do vitral semiescuro do veículo, tentando compreender a vacuidade de se fazer presente; livre e agarrada ao destituído, movida pelo impulso, pela disposição de não repousar, para não me incorporar na tepidez e no assentamento dos átomos frenéticos do vazio. Estranhamente, observava os bares de esquina, as bodegas populares; olhava depressa, conforme a velocidade do carro. Notável era, para mim, as pessoas que naqueles locais estavam; avistava homens e mulheres de meia-idade. Via corpos agitados e eufóricos se misturando aos ritmos das músicas; as garrafas de cachaça em suas mãos, com a fusão violenta de várias bebidas em um só copo. Olhava as roupas das mulheres, fielmente justas em seus físicos, delineando todas as curvas e dobras; mostravam seus quadris e pernas, exibiam grande extensão de pele e risos estridentes. Cada vestimenta apertada demonstrava a ânsia de existir e ser presente, com todo o vigor e ímpeto. Dentre essas mulheres, percebi uma jovem sentada estupidamente numa cadeira, com um cigarro entre os dedos médio e indicador da mão esquerda; seu olhar revelava um afastamento do real, estava suspenso no tempo e emitia um ódio oculto. Alguns estavam ébrios de tanto beber; mas todos estavam esmorecidos, estagnados em suas cláusulas anímicas, com todos os seus fenômenos mentais absortos num marasmo pujante; submissos à droga depressora e aos prazeres libertários que o álcool oportuniza. Perante toda a agitação boêmia, denunciavam-se pelos olhos e pelo corpo através dos minúsculos e relapsos espaços de tempo: em instantes de desprendimento de si e do resto, que se manifestavam numa espécie de nistagmo nas suas vistas e de desconforto nos seus corpos, numa fugacidade de miastenia. Dentre aqueles, achei um: este, o mais autêntico. O mais genuíno era o senhor muito magro de pele escura, sentado envergado com os antebraços repousados nas coxas, com as mãos soltas; com a cabeça abaixada, sua postura era horrível. Não conseguia visualizar a expressão facial dele, mas parecia preocupado e infeliz. Na parte superior das costas, apresentava um desvio proeminente, e a região do esterno, vulgarmente, em seu peito, inclinava-se vincada para dentro, como se alguém o tivesse apunhalado. Era o nada penetrando o seu espírito e sugando todas as suas forças. Todos os fatores externos abatiam-no e sua consciência culpava a si mesma. O cheiro da cachaça indicava um dos escapes: esquecer de tudo, mas, principalmente, de si; porém, ele ainda pensava num outro, o mais vil e doloroso: tirar a própria vida.