A lorota do vestibular

Damasceno sempre foi um vizinho visto pelos moradores com certa desconfiança, sempre se posicionando como um homem de influências. Trabalhava na Secretaria da Fazenda do Estado do Pará, mas ninguém na rua do Fio sabia o que ele fazia lá, ou quase ninguém.

Assim na simplicidade que tudo acontecia, Robertinho passou no vestibular. Uma boa parte dos moradores da rua comemoravam com ele, quando ouviram dizer que esse vizinho, o Damasceno também havia passado.

E de fato ele estava em sua casa, com a música tema do Pinduca, para os aprovados no vestibular recebendo as pessoas de boa fé, todo pintado, careca e dançado alegremente com a dona Maria, mãe do Pilão, esboçando aquele um ar de felicidade, de que realmente havia conquistado um espaço na Universidade. Festejava  com Pilão, com dona Emilia e com  Robertinho, que também havia sido aprovado, quando Nato, que também estava na comemoração foi chamado em sua casa, para atender uma ligação.

O interessante naquele momento de entusiasmo,  que dona Mariza, a esposa e os filhos Débora, Couti e Dorival não se encontravam ali. Também ninguém sabia dizer, qual o curso ou qual a Universidade ou Faculdade, aliás, a maioria lá estava ligando e nem se preocupavam com isso, apenas curtiam o momento.

Enquanto Nato, que havia saído por um instante dali atendia ao telefone e se espantara, pois era ninguém menos, que o Dorival na linha, o filho do Damasceno,  dizendo:

-  Alô... Nato?...

Nato redpondendeu com muitas duvidas:

- Oi. Quem fala?

O rapaz respondeu:

- Sou eu, o Dorival, filho do Danasceno.

Nato achando estranho aquela ligação falou:

-  E Dorival, o que foi?!... Tu estas sabendo que o teu pai passou no vestibular?...

E Dorival continuou:

- Sim, é por isso, que estou ligando. O papai não passou coisissima nenhuma. É só lorota dele. Por isso, que nenhum de nós,  filhos e nem a mamãe, estamos lá em baixo, para não compactuarmos com essa mentira absurda. Mas por favor, vê o que vais fazer e não diga nada que foi eu, que falou.

Nato enfurecido falou:

- Tudo bem Dorival, obrigado, não vou falar.

Mas falando consigo mesmo Nato dizia:

- Filho da Mãe. Enganou todo mundo. Mas isso não vai ficar assim.

E descendo do seu quarto viu o senhor Raimundo pai da Ruth com o senhor Fortunato , seu pai,  abrindo a fossa pra secar.

Ele não teve duvidas. Pegou um balde grande e o encheu daquela substância putrefata. Mesmo sob a interrogação de seu Fortunato, que disse:

- Ei moleque, o que vais fazer com isso já?!...

Nato parou e respondeu:

- Pai vou dar a Cesar o que é de Cesar.

Seu Fortunato homem religioso, entendeu a frase, mas não o que de fato estava passando na cabeça do filho e continuou o seu trabalho comentando com o seu Raimundo:

- Essa juventude vive inventando coisas.

E Nato saiu porta afora com o balde fedendo, mas bem ciente do que ia fazer.

E chegando a casa do Danasceno, que estava recebendo outros convidados, chegou de mansinho, bem pertinho do Damasceno dançando a marchina do vestibular e virou todo balde sobre o calouro, que não perdeu a pose. Com os braços abertos e sem camisa, sob um fedor horrendo continuou a dançar a machinha, como se aquele banho fosse parte da comemoração.