Eugênio

Nuvens se movem animando o cenário, o expectante sentado fixa sua lente côncava. Um bebê se comunica ao som dos passarinhos, o degrau fora do nível nivela os passos da jovem senhora e o tropeço propõe uma nova cena. Aproximou sem formalidades e eu lhe perguntei: - Qual é o seu nome, rapaz? Sempre aparece por aqui?

- Eugênio, eu apareço uma vez ao ano, geralmente no dia três do primeiro mês.

- Tenho pedidos!

- Claro, até três. Prossiga!

- A cada fim de ano relembramos a deliciosa iguaria, e com ela os resquícios da mesa e a saudade eterna, celebrada com seus sérios prejuízos, e como se preso a ela vivo. Gostaria de compreender e desistir da saudade e substituí-la por uma memória esperançosa.

- Fácil esse pedido, o que mesmo que você disse? Ah, desculpe a pequena falha, feito.

- O segundo, tem a ver com a vista. A água da chuva não removeu a sujeira e seu aspecto, quase imprestável, não consegue ver beleza, assim descrevo.

- Olhe na sua agenda e a cirurgia de catarata resolverá. Muito cuidado, o próximo será o último desejo.

- A casca da laranja pendurada no alpendre, desidrata-se lentamente, esperando servir como adubo. Ela foge do fogo, suas cinzas, sem proveito voariam. Quero fugir do fogo!

- Aí é demais pra mim! Esse não consigo!

O tropeço da jovem senhora o acordou e pensativo voltou a planejar o calendário do ano que se iniciara.