Lembranças com cheirinho de café
Ainda tenho aquele cheirinho na memória,acordava em cedo, risos e gritos de crianças para todo lado, mãe na cozinha, aquele cheiro de café feito no fogão a lenha, exalando por toda a casa, tinhamos um típico e sagrado café da manhã de quase todos os nordestinos, café, cuscuz, bolinho de milho,leite tirado da vaca naquela mesma madrugada,e toda a família reunida na mesa,em seguida cada um seguia para os seus deveres,o pai seguia pra roça,a mãe sempre ocupada com seus afazeres domésticos e os filhos mais velhos brincando enquanto cuidava dos menores.
O tempo foi passando, aquele som de crianças foi passando a incomodar, aquele café da manhã preparada com todo amor e carinho foi deixando de ser algo incrível e eu já nem dava importância,pegava um copo de café,um pedaço de bolo e seguia para escola,nem sentava a mesa,toda aquela simplicidade foi se tornando desejo de sair daquele lugar,morar em uma cidade,ter uma vida moderna,aquela vida comum,simples e em família já não era algo que me deixava contente,sentia que tudo aquilo era pouco pra mim,eu tinha sonhos que já não podiam mais serem realizados "ali".
Minha mãe sempre falava que o sentido da vida está nas coisas simples,um café da manhã com todos reunidos,um cafezinho a tarde enquanto todos comentam como foi o seu dia,oque aprendeu de novo e quais as metas para o próximo dia, é...ela tava certa.
Hoje,acordo num silêncio irritante,o café sai de uma máquina e tem qualquer sabor,menos o de café,sentar-se a mesa?nem pensar,pego o café(essa bebida quente, industrializada e usada somente para me manter acordada para um dia de trabalho) e sigo pela selva de concreto e aço , lembrando daqueles bons tempos na roça, sonhando em ter coragem de voltar novamente para o interior,e me perguntando, quando foi que eu decidi trocar aquela vida tão simples e feliz,por toda essa loucura da cidade? A reposta eu não sei,más talvez um dia ,eu volte e farei de tudo para meus filhos, assim como eu ter essas memórias simples e depois se eles decidirem assim como eu fiz, saírem espero do fundo do coração que percebam antes que seja tarde demais que as vezes o comum é extraordinário.