O Último Selo
Eu sempre fui fascinado por selos. Cada um deles era um pedaço de história, uma janela para o mundo. Eu me lembro da primeira vez que minha mãe me levou a uma feira de filatelia. Os vendedores, com seus olhos brilhantes e mãos calejadas, mostravam aqueles pequenos tesouros como se fossem relíquias sagradas. Eu passei horas ali, absorto, sonhando em viajar por cada país que aqueles selos representavam.
Com o tempo, minha coleção cresceu. Selos de lugares que nunca visitei, de épocas que nunca vivi. Cada um tinha sua própria narrativa, sua própria emoção. Eu me sentia como um guardião de memórias alheias. Mas agora, sentado aqui em meu velho sofá, cercado por álbuns empoeirados e a luz fraca da tarde filtrando pela janela, sinto que a poeira tomou conta não apenas dos selos, mas também das minhas lembranças.
O mundo mudou tanto. Lembro-me do dia em que meu neto entrou em casa com seu celular na mão, todo empolgado. “Vovô”, ele disse, “você não vai acreditar! Podemos conversar com qualquer pessoa do mundo em segundos!” E eu sorri, mas a verdade é que um nó se formou na minha garganta. Ele falava sobre e-mails e mensagens instantâneas, e eu pensava nas cartas que troquei ao longo da vida. Aquelas longas missivas cheias de sentimentos e histórias; eram como selos que levavam meus pensamentos a lugares distantes.
A tecnologia avançou tanto que os selos parecem ter se tornado obsoletos. Quem ainda envia cartas? Quem precisa de um pedaço de papel quando se pode digitar algumas palavras e apertar "enviar"? Olhando para minha coleção agora, sinto uma mistura de nostalgia e tristeza. Cada selo é uma lembrança do passado, mas também um lembrete da solidão crescente no presente.
Naquele dia em que meu neto estava tão animado com seu celular, eu tentei explicar a ele o valor dos selos — não apenas como objetos colecionáveis, mas como símbolos de conexão humana. Ele me ouviu pacientemente, mas logo voltou sua atenção para o brilho da tela, onde as conversas aconteciam em tempo real. “Vovô”, ele disse com um sorriso despretensioso, “não precisa mais esperar dias para receber uma resposta.”
E então eu percebi: talvez a rapidez das mensagens tenha substituído algo mais profundo nas relações humanas. A espera pelo correio era uma forma de expectativa; cada carta trazia consigo o peso da saudade e a alegria da novidade. Agora tudo é tão imediato, tão efêmero.
Eu olho para os selos e sinto uma revolta silenciosa crescendo dentro de mim. Eles são como eu — esquecidos em um canto escuro da casa enquanto o mundo avança sem olhar para trás. E se eu deixasse tudo isso? Se eu simplesmente me rendesse ao novo? Mas ao mesmo tempo… há algo reconfortante na fragilidade dos papéis amarelados e das histórias passadas.
A dúvida me consome enquanto seguro um selo entre meus dedos trêmulos. O que será de mim quando não houver mais ninguém para ouvir as histórias escondidas nas páginas dos meus álbuns? E assim continuo pensando: será que todo esse progresso realmente nos trouxe mais perto uns dos outros ou apenas criou novas formas de solidão?
E aqui estou eu, cercado por memórias e perguntas sem respostas… Com um último selo na mão e o eco das mensagens instantâneas ressoando na minha mente.