Antônio e Vitória
Era uma vez um senhor idoso chamado Antônio, um homem de barba grande e de um coração maior ainda, tamanha era sua generosidade. Já havia completado oitenta primaveras e morava sozinho numa pequena casa feita de sapê às margens de uma linda lagoa no meio de uma reserva ambiental.
Antônio era um aventureiro, gostava de fazer rapel, trilhas e até praticava canoagem em um tronco de árvore. Tinha nome de santo e deveria mesmo ser um, pois de bondade, estava repleto seu velho e cansado coração.
Certo dia, ele passeava ao pé de um penhasco quando escutou um piado de socorro, olhou em volta e viu entre os arbustos um filhotinho de águia que caíra do ninho e estava com uma das asas quebrada.
Pegou o filhote com cuidado e foi até o ninho para averiguar a situação e para sua surpresa, ou melhor, para sua tristeza, encontrou a mãe águia morta sem saber o motivo, embora parecesse que fora vítima de envenenamento.
O jeito era voltar para sua pequena “mansão” e cuidar daquela avezinha que no momento estava órfã.
Antônio ficou com o coração partido, deixando escapar algumas lágrimas enquanto sepultava o corpo da águia e para maior tristeza, contemplava o filhotinho piando chamando pela mãe.
Assim que terminou, colocou o filhote do lado esquerdo do peito, bem juntinho do coração e voltou para sua doce casinha sapê. Ao chegar, preparou uma comidinha bem gostosa e um nome para sua nova companheira que era uma fêmea muito linda, chamando-a de Vitória.
Na hora de dormir, Antônio colocava Vitória em um ninho que ele mesmo construiu com todo carinho e muito confortável ao lado de sua cama. Vitória foi crescendo e se tornou uma linda águia, criando um forte laço de amizade com aquele que a salvara da morte e esse amor era tão intenso, que a bela águia pousava no ombro de seu melhor amigo e passeava com ele pelos campos e rochedos; seu lugar favorito.
Certo dia, Antônio amanheceu muito doente e não conseguiu se levantar da cama, pois fora acometido de uma pneumonia, enfraquecendo-se a cada dia que passava. Vitória ficava o tempo todo ao lado do amigo, mas não podia fazer nada, a não ser acaricia-lo com seu bico.
Diante de tanto carinho, Antônio proferiu algumas palavras para sua amiga, mesmo com a voz fraquinha dizendo:
— Vitória, você me fez companhia e trouxe muita alegria para o meu cansado e velho coração durante esses anos que se passaram. Foi minha companheira nos momentos difíceis e me ensinou muito sobre o amor. Estou indo embora deste mundo, mas vou tranquilo porque sei que estás pronta para explorar este lindo mundo que Deus deixou para você.
Após estas palavras, Antônio, mirando bem a face de sua amiga, foi fechando os olhos devagarinho e dormiu para nunca mais acordar.
Alguns dias depois, Vitória encontrou um namorado e os dois bateram asas felizes da vida pelo imenso céu azul.