A fechadura fake (BVIW)

 

 

Vera trabalhava há mais de uma década na casa dos Andrades. Era pessoa de confiança, mas pecava na curiosidade. Fosse animal, seria gato. Nunca se vira gente mais bisbilhoteira que ela! De tudo queria saber.  Era a primeira a tomar conhecimento das fofocas da vizinhança, e fazia questão de contar para a Dona Leonor, que era mais que patroa, se tornou íntima pela convivência diária. Leonor se divertia com as abelhudices de Vera e lhe perdoava a língua comprida.  Havia na casa um cômodo reservado, cuja patroa ficava horas dentro, sendo interrompida apenas para o chá da tarde, que Vera fazia questão de levar, não delegando a outro funcionário essa tarefa. Entrava já de olho na mobília, e se corroía de vontade em descobrir qual chave abriria a gaveta misteriosa. Diversas vezes quase desmontou a escrivaninha tentando destrancá-la. Na sexta-feira, dia de faxinar os móveis, Leonor flagrou Vera, de quatro como uma gata, debaixo da mesa se perguntando:

 

- Cadê a chave!? Onde estará essa bendita chave???

 

Atrás da Vera, de braços cruzados, e prendendo o riso em ver a ajudante do lar naquela posição, quis saber:

 

- Que chave perdeu, mulher?

 

De um salto, de um grito, e de um susto grande, a empregada revelou tudo:

 

-Dona Leonor, me desculpa! Eu só queria saber o que tem nessa gaveta que chave nenhuma abre. Já tentei todas as outras da casa! Eu não ia pegar nada, só ver mesmo o que guarda...

 

- Mas Vera, por que nunca me perguntou? Não guardo segredos, eu lhe mostraria o que é. Anos de curiosidade acumulada, coitada! - Leonor contou que a fechadura era de enfeite, não havia chave. Bastava apertar o botão ao lado da mesa que a gaveta deslizava. Dentro, uma coleção de selos. Filatelia era hobby, o passatempo preferido da advogada -.

 

 

 

Tema proposto pelo BVIW   - A Chave

 

(BVIW - *BECOMING VERY IMPORTANTE WRITER/ "Tornando-se um escritor muito importante").