Pensando em Ariano Suassuna 

Dedicando a minha amiga Poetisa Erivaslucena 

 

 

 

 

Cantos de coragem 

 

o casamento do Sabiá é da Lua 

 

Era uma vez, na pequena cidade de São João do Sertão, um sabiá chamado Zé do Vento. Ele não era um sabiá qualquer; tinha um canto tão melodioso que fazia até os ventos pararem para ouvi-lo. Zé era conhecido por todos na cidade, e sua fama se espalhava pelo sertão afora. Mas Zé tinha um sonho peculiar: ele queria se casar com a Lua.

A Lua, por sua vez, brilhava todos os meses no céu como uma verdadeira diva. Ela ouvia as cantorias de Zé e se divertia com suas declarações apaixonadas. “Ah, meu querido Sabiá,” dizia ela, numa voz suave como a brisa da noite, “você é o mais encantador dos pássaros! Mas como poderia eu descer até o chão para me unir a você?”

Zé não se deixou abater. Ele convocou uma reunião entre os habitantes da cidade para discutir como poderia realizar seu sonho. Na praça central, sob a sombra de um pé de juazeiro, reuniram-se figuras peculiares: Dona Mariquinha, a parteira que sabia tudo sobre todo mundo; Seu Zé das Dores, o filósofo local que sempre tinha uma resposta para tudo; e o menino Quincas, que sonhava em ser poeta.

“Vou fazer um casamento grandioso! Vou convidar a Lua e fazer dela minha noiva!” proclamou Zé do Vento.

“Mas como você vai trazer a Lua até aqui?” perguntou Dona Mariquinha, rindo.

“Eu vou construir uma escada até o céu!” respondeu Zé com confiança.

E assim começou a grande empreitada. Com a ajuda dos moradores da cidade, Zé começou a construir sua escada. O povo se uniu em um mutirão: uns traziam madeira dos matos próximos, outros faziam comida para alimentar os trabalhadores. Até as crianças ajudavam, pintando as tábuas com cores vibrantes.

A cada dia que passava, mais gente se juntava ao projeto. A escada crescia e crescia, e logo virou o assunto da cidade. Até mesmo os passantes paravam para admirar a obra-prima que estava sendo erguida.

No entanto, havia um problema: o velho Carcará, uma ave astuta e maliciosa que vivia nas redondezas. Ele ficou sabendo do plano e decidiu que não ia deixar Zé realizar seu sonho. “Um sabiá casando com a Lua? Isso é coisa de maluco!” pensou Carcará.

Na véspera do grande dia, enquanto todos dormiam sob as estrelas iluminadas pela luz da Lua cheia, Carcará subiu na escada e começou a cortar as tábuas com seu bico afiado. Ele riu ao imaginar o desastre que viria pela manhã.

Quando amanheceu, Zé acordou animado e subiu até a escada. Mas ao chegar ao primeiro degrau, ouviu um barulho estranho. Olhando para baixo, viu que metade da escada havia desaparecido!

“Carcará! Você não vai me impedir!” gritou Zé do Vento em desespero.

E assim começou uma batalha épica entre o sabiá e o carcará. Enquanto o sabiá cantava suas mais belas canções para chamar a atenção da Lua — “Oh Lua querida, venha me buscar!” — Carcará voava em círculos em torno dele, fazendo piadas sobre seu amor impossível.

Mas foi então que algo mágico aconteceu: a Lua decidiu intervir. Ela desceu um pouco mais perto da Terra e falou com sua voz doce: “Zé do Vento, eu ouvi suas canções e admiro sua coragem. Não deixe que este carcará atrapalhe seu sonho.”

Com isso, ela lançou uma luz prateada sobre a escada remanescente. As tábuas começaram a brilhar e se recomporam magicamente! A escada estava mais forte do que nunca!

Vendo aquilo, Carcará ficou furioso. “Você pode ter ajudado esse bobo,” disse ele à Lua, “mas eu não vou desistir tão fácil!”

Ele tentou derrubar a escada novamente com suas garras afiadas, mas ao invés disso acabou se envolvendo em uma confusão de penas e gritos quando as crianças da cidade apareceram para ajudar Zé!

O povo começou a cantar em coro as canções de amor do sabiá enquanto dançavam ao redor da escada. A energia era contagiante! A Lua sorriu ao ver tanta alegria e decidiu descer ainda mais perto.

Finalmente chegou o grande momento: Zé do Vento subiu os últimos degraus até alcançar onde a Lua estava brilhando intensamente. Com todo o coração batendo forte dentro de seu peito penas douradas, ele declarou: “Oh minha amada Lua! Quero te levar comigo para sempre!”

A Lua sorriu e disse: “Zé do Vento, você tem coragem de amar sem limites! Eu aceito ser sua noiva!”

E assim aconteceu o casamento mais inusitado que São João do Sertão já viu: sob as luzes cintilantes das estrelas e com os habitantes da cidade celebrando ao som das canções do sabiá.

Zé do Vento nunca esqueceu aquele dia mágico em que conseguiu realizar seu sonho — mesmo que fosse apenas por algumas horas — de estar ao lado da Lua.

E desde então, sempre que alguém olhava para o céu à noite e via a Lua brilhando intensamente acima deles, sabiam que era ela dançando com o Sabiá em seus sonhos eternos.

 

 

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 27/08/2024
Reeditado em 27/08/2024
Código do texto: T8137925
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