Amor em boletins vermelhos

 

Muitas vezes o que sobra de um dia se arrasta até o outro. Pode ser comida ou humor. Quando são sobras de riso, até que é bom fazer durar; quando é coisa de aborrecer, melhor esquecer. As vezes sobra até silêncio; afinal, o que é a vida a não ser a passagem de um silêncio para um riso belo? O que é um riso belo sem a diferença de saber que a ausência dele, a felicidade emudeceria?

 

Não! Do passado não interessa sobras de amor. Sobras são falhas do desencanto ou da partida. Só começa outra vez, quem morre de amor sempre.

 

- Cíntia, que notas você daria para cada amor que teve?

Era melhor misturar mais gelo na bebida enquanto pensava em como responder. Na verdade pensou em dar-lhe boletins de notas vermelhas. Ao contrário disso, o ideal seria voltar a fase não adulta da vida. Então pensou em Jorge e seus poemas; em Carlos e seus amassos eufóricos, longos e perigosos; pensou até no amor que não viveu com o rapaz mais loiro e avermelhado da escola, mas chegaram a ouvir juntos o 14bis.

- Não vai responder?

- Não. Mas está sendo bom divagar pelas sobras da memória que por agora, balançam sem medo do tempo.

 

Marília L Paixão

 

 

 

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 21/08/2024
Código do texto: T8133890
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