O amargo em ser doce

Em aprisionamento minha alma vivia um tormento eterno dentro de meu corpo, como as sementes de uma suculenta maçã rosa apodrecendo em seu interior até a parte de fora. A cada badalada ao mel em meu coração uma agulha de leite furava, e o doce se fluía aos rios do amargo, corroendo assim, minhas entranhas. A cada dia, a esperança minguava como uma vela em mar de tempestades, e a escuridão se alastrou por todos os cômodos de meu ser.

Afinal, o que sou, se não, uma sombra ao reflexo de um ser tão conjugal e eu nada verbal? O que seria de minha existência se não um mero ofício de proezas? Lamentos e mais lamentos em noites de chuvas sem Sol, enquanto na madrugada o embriagado se guia pelos vaga-lumes tec-tec.

Os lampejos dos postes cegam as pessoas ao passar igual o que fiz amargamente a "eles", não posso mudar o passado, porém o futuro é apenas um emaranhado de nós e decidirei qual irei desatar. Uma pomba branca sobrevoou os marmelados céus nublados de minha oriunda cidade, seu resplendor foi o meu florescer que depois venho a se carcomer.

Uma vez fui gente e ao soar do sino me tornei pedra que se desentegra ao regenerar, enquanto gaivotas soltavam suas penas ao raiar do verão, desleixadas sem preocupações.

Tive de sair de minha pupa de maneira embaraçada forçada o que não me transformou e sim me contagiou até o amanhecer do inverno chuvoso.