Ensaio Sobre a Liberdade
O fim do sol, que com todo o esplendor, beija as pontas nuas dos morros. Graceja o voo da revoada. Aquece a tarde e os pensamentos. E assim a pequenez do mundo se acinzenta, o vento ouriça os braços descobertos das mulheres libertas e bagunça seus cabelos com diversão. A chuva ameaça cair, mas não passa disso. Surge a noite, em que os jovens sorrateiros se encontram: olham para o céu voraz, risonhamente, e ouvem as estrelas cantando sobre amor.
Tentam sibilar. A construção de uma frase concreta, ou uma simples interjeição, parece inviável. O brilho se apaga – como se outro também tentasse sugar o poder do tempo. A desistência surge das expressões indecifráveis. Resta o labirinto eterno da dúvida e sofrimento, cujas ruelas não foram transpostas para mapas inesgotáveis, guiando as paixões irremediáveis para a miséria.
As leis da física, da matemática, essas podem ser questionadas. Contudo, a lei da liberdade, a dona de todas as escolhas e desescolhas, comporta-se sem falhas. Então, vem a condenação: viver dependente das decisões erradas. O desespero. O destempero. O desamparo sussurra nos ouvidos nus, penetra no fundo da mais sã alma. Apavora o ser, que implora continuamente para que a liberdade seja arrancada de si. Enterra as migalhas restantes, e em seu suspiro final, encontra-se com uma figura sem rosto, cuja única manifestação é o arrependimento.
A Existência, assim, empurra a Essência, carcomida pela doença da nostalgia, com seus pedaços já putrefez à metafísica. A Essência utiliza suas últimas gotas de saliva, a coragem restante, olha para trás e tenta esticar-se um pouco mais...
A triste Existência assiste a chegada do aguaceiro.