A riqueza perpétua
Visitei aquelas ruínas com um misto de nostalgia e encantamento de quem visita o passado que só via em livros antigos... Ao ver o casarão abandonado, brotava pensamentos onde visualizava com perfeição, as pessoas que um dia habitaram aquele lugar. A opulência das salas, dos cristais, da elegância parisiense a se infiltrar no nordeste pernambucano... Era realmente inimaginável como toda a aparente riqueza daquela família veio do além-mar. Após desembarcar num porto do Recife, vinha em lombo de burros e cavalos, navegava pelas águas do rio até desembarcar no meio do mato agreste, longe da civilização.
A casa era imponente, arcos plenos no seu entorno denotavam a nobreza do Senhor de Engenho. Vitrais coloridos ali existiram... mosaico com pequenos cortes de vidro importados da França, vermelhos, símbolo da mais alta riqueza. Continham até pó de ouro em sua fabricação... O ouro que talvez viesse desse mesmo solo brasileiro.
Em meio ao mato crescido, se via o pátio interno. Lugar reservado às sinhás, onde as moças tomavam banhos de sol e sonhavam com casamentos quase sempre com um primo escolhido pelo pai.
Algumas delas talvez não sonhassem nada disso... Talvez tivessem outros desejos. Viajar para Paris, viver como as moças de lá, modernas e estudadas. Realidade destoada da mulher rural, mesmo que nobre, pois essa oportunidade era dada somente aos homens. Filhos de barões, de viscondes. Esses, iam, estudavam fora e voltavam para ocupar algum cargo de deputado ou senador local. Uns deles trouxeram na bagagem, ideias abolicionistas, para a fúria do pai e dos demais senhores de engenho de cana de açúcar, como era a vocação do lugar. Alguns, financiados pelos recursos obtidos da mão de obra escrava, fizeram de suas vidas, verdadeiras bandeiras em prol do fim da escravidão. Era incoerente... Mas uma necessária incoerência!
Ao alto avistei a capela. Imponente no topo de uma das serras, mas não tão distante da Casa Grande. Era mais afastada pois recebia para a missa, pessoas do entorno, estranhas à Casa, de outros engenhos menores, mercadores, transeuntes e outros convidados que não eram íntimos da família.
Contam que ali no engenho, já havia se hospedado o Imperador! Uma honra para o barão que o recebeu com festas e fartos banquetes. Toda a comitiva ficara hospedada e para o Regente, um quarto com toda opulência fora preparado e após sua partida, ficara preservado com alguns objetos esquecidos, para sempre guardado sem que mais ninguém o ocupasse, afinal, foi ali acomodado, o magnânimo, D. Pedro II, o último Imperador do Brasil.
Agora tudo estava em ruínas... Estruturas sustentadas por árvores crescidas que abraçavam algumas paredes, como se estivessem ali para segurar as memórias de um tempo longínquo, para que, quem viesse depois, continuasse a contar a história construída pelas mãos dos escravizados, edificada com grande dor e sofrimento; para que sempre nos lembremos das nossas origens; para que respeitemos e façamos respeitar, a nossa maior riqueza, o nosso belo e miscigenado povo brasileiro!