O Sebo
Como é bom passar uma tarde inteira no Machadiano, um prédio antigo, de esquina, que mistura charmosas estantes de livros, uma pequenina lanchonete onde o café é delicioso, um reduzido jardim de inverno com vasos estrategicamente enfileirados, e uma mini encantadora loja de itens de decoração onde garimpar em busca de alguma peça antiga e em perfeito estado, sem pressa, é certeza de boa compra.
Antes de entrar no sebo que fica em uma rua comum eu deixo propositadamente celular sem sinal, para não receber nenhuma mensagem ou ligação . Ali dentro esqueço da amarga correria da semana, quando sufocada pelo relógio e tento dar conta de várias atividades em espremidas 24 horas.
Quando entro vou primeiro fuçar os livros recém recebidos, conversar com o livreiro, sempre chega o momento de comer um salgado assado, tomando um café e ouvindo um músico ou uma instrumentista tocando violão ao vivo. Os clientes mais empolgados e afinados cantam acompanhando a melodia e a tarde ganha um colorido com ares de seresta.
É uma mistura de loja e ponto de encontro dos apaixonados por literatura, por boa música, por café e por objetos antigos.
Pisando ali sinto que gradualmente minha respiração fica mais suave, meu corpo relaxa e naquele espaço lindamente decorado com livros, ilustrações, revistas, quadros, e pequenos objetos antigos muito charmosos, alguns deles servem para apoiar os livros nas estantes apinhadas de exemplares.
Pegar um livro , escolhido sem nenhum critério, abri lo e imaginar quem foi seu antigo dono ou dona, encontrar uma dedicatória ali perdida na primeira página atiça minha imaginação. Em alguns está escrito onde foi comprado (nome da livraria e quando). Os livros têm cheiro, têm histórias e é poético saber que eles circulam.
Meu roteiro preferido é acordar mais tarde aos domingos, tomar café da manhã na padaria, comer um delicioso pão na chapa, almoçar uma macarronada com familiares e amigos e depois de fazer a cesta de quinze minutos ir caminhando até o Sebo, um dos lugares que mais gosto na cidade e onde o tempo passa devagarinho desfilando.
Quando entro parece no sebo parece que viajei para o interior e não estou mais São Paulo, cidade que eu amo mas que está cada dia mais barulhenta e cansativa. Ali encontro alguns conhecidos.
O simpático casal, donos do sebo, desse espaço único, é apaixonado pela obra do Bruxo do Cosme Velho. Eles estão juntos há décadas, casados um com o outro e com os livros, como eles costumam dizer.
A paixão deles comunga com a minha e com a dezenas de clientes encantados com esse pequeno retiro literário cravado no meio do caos paulistano.