Desaparecido na Poeira (BVIW)

 

 

Era constante ver Tupi vigiando Chico voltar da plantação. Zenilda sabia de cor a hora, a pontualidade do cãozinho lhe certificava: 17 horas. Poucos minutos depois, o filho apontava próximo ao bambuzal, e o bichinho corria feito corisco para encontrar o parceiro de tantas aventuras. Toda volta para casa, o rapaz apostava corrida com Tupi, mas deixava o amigo vencer. O cão estava há sete anos em sua companhia, e gostava de lhe poupar as energias.

 

Diversas vezes Tupi livrou Chico de ser picado por cobra e escorpião. O sem raça definida era mais valente que os cachorros bravos com pedigree. Encarava qualquer desafio ou adversário para defender o companheiro.

 

Um certo fim de tarde, porém, ao regressar da lida, Chico sentiu falta de Tupi. Esticou o pescoço, mas não viu o cachorro no lugar habitual. Assobiou, e nada dele surgir. Em seu lugar estava Dona Zenilda assustada, apreensiva, e parecia que havia chorado. E havia mesmo. Tupi sumiu na poeira atrás do caminhão com os gados do Manelzinho do queijo.

 

Os vizinhos das outras chácaras vasculharam os cantos, os pastos, o rio, e sequer rastro do bicho! A dor do rapaz era visível em seus passos lentos e arrastados ao retornar para casa. Começou a voltar mais cedo da lavoura na esperança de encontrar o cachorrinho. Sentava-se à soleira da porta, no mesmo lugar que Tupi lhe esperava. Agora era ele, o Chico, que aguardava o amigo de patas retornar até que o Sol se escondesse atrás do morro.  

 

 

 

Tema proposto pelo BVIW   - À soleira da porta

 

(BVIW - *BECOMING VERY IMPORTANTE WRITER/ "Tornando-se um escritor muito importante").