Dirigia-me ao aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, eram 17:30 minutos. Arrastava uma daquelas pequenas malas com rodinhas, que são práticas tanto quanto são irritantes.No início, senti um pequeno e reles mal-estar causado por gases intestinais, traduzia-se em estranha cólica intestinal. Corri até o banheiro, pois acreditava intimamente ser uma reles urinada ou uma famosa "barrigada", o que não trouxe-me um pronto alívio. Meu voo era para Buenos Aires, iria participar de um seminário de Direito Brasileiro e Direito Argentino.
Recordo-me, ainda, que com tamanha cólica, falar em público seria, no mínimo, desagradável. Cheguei antecipada no aeroporto, pois o voo era só as 18:30 minutos. Mas, não gosto de fazer nada correndo em demasia.
Diante da primeira contração que senti, percebi atônita minha prenhez fecal, provavelmente advinda de uma longa gestação.. E, talvez meu parto devesse ser o de cócoras, preferencialmente tão logo chegasse ao vaso sanitário no banheiro do aeroporto.
Estava sozinha. E, intimamente pensava... em uma ida ao banheiro, quando tudo se resolveria. Ledo engano! Senti algo me beliscando e fiquei rezando firmemente o mantra da retenção. As fisgadas ritmadas se aceleraram, e eu suava compulsivamente. Perdi a conta de quanto tempo fiquei ali, no vaso sanitário. Parecia mesmo uma eternidade.
Fui fazer o check in, e a atendente achou estranho o meu esgar. Não era para menos, pois estava passando mal... Meu sorrisinho amarelo icterícia respondeu que era só um pequeno incômodo...
Amaldiçoei a malinha com rodinhas. Deveria ter sido mais contida na hora de acondicionar a bagagem. Para quê tanta roupa e livros?
Passei para a sala de embarque e tentava em vão, me distrair vendo a televisão, sonhava com um enorme vaso sanitário que seria tão alvo e digno, além de tão limpo que alguém poderia até mesmo almoçar dentro dele. Ainda bem que sempre ando prevenida e, na bolsa sempre tenho pequenos rolinhos de papel higiênico.
De repente, senti um certo volume almofadado em meu traseiro... e então, levantei-me subitamente e, percebi consternada, que havia defecado definitivamente. E, o diabo que era tão sólido e comprido que o volume era incômodo. Corri, novamente ao banheiro, agora preocupada, pois pistas estéticas já deveriam aparecer em minhas vestes. Lá vai a pobre criatura toda cagada ao toilette.
Ainda bem que eu estava com minha calça jeans, e por ser um tecido mais duro e encorpado, não transpassou nada de impróprio. Ufa, que sorte.
Merda! pensei em voz alta. Em pensar que essa interjeição no teatro quer significar sorte... Agora, eram os gases que também desejavam sair... mas, eu pensei, o que seria uma mera flatulência, em face do todo volume sólido que já tinha tirado das calças? Limpei-me, como pude, tirei as calças íntimas, e tentei usar um absorvente para prevenir outros futuros acidentes intestinais.
Mas era tarde demais... pois, de fato, era difícil limpar tanta sujeira, sem um devido banho.. só na base de lenços umedecidos. Uma tarefa de Sísifo. Mestre da malícia e da felicidade, ele entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses.
Joguei a calcinha suja fora, na lixeira mesmo do banheiro, devidamente enrolada por muitas toalhas... Minha dignidade humana esvaíra-se totalmente. Corri para embarcar no avião... peguei uma colônia dentro da bolsa e borrifei severamente para disfarçar aquele cheirinho horrível.
Enfim, sentei-me na poltrona da aeronave, fui até Buenos Aires, mal disse o tango, respirei bem fundo. Tentando acostumar a audição ao espanhol enviesado. E, pensei: como posso estar assim tão nessa situação tão trágica? Veio a aeromoça com sua simpatia de praxe e me perguntou se eu precisava de algo...
Agradeci, e pensei, tudo que eu queria eram intestinos recauchutados...(e educados) E, obviamente um banho... Tudo era impossível e impraticável. Restava a esperança de na capital argentina resgatar alguma higiene. Depois de setenta e dois passos do tango, minha saga intestinal era patética e até engraçada. E de perfume reprovável.