Uma Segunda Chance

Ana despertou com um sobressalto, o coração acelerado e a respiração apertada. A última imagem que teve em seu sonho foi a do necrotério, onde o corpo estava imóvel e pálido. A consciência de que tudo não passava de um pesadelo foi acompanhada por uma profunda reflexão. João, seu esposo, dormia de forma tranquilo, distante da agitação que a rodeava.

Naquela manhã, havia algo de estranho. O peso do sonho que havia tido parece se infiltrar na realidade. Ana olhava Luiz de uma forma diferente, com uma perspectiva de quem redescobre o valor de algo que quase perdeu. Ela se recordava de tê-lo visto em um sonho, chorando de joelhos no chão do quarto, abraçada a uma de suas camisetas, que estava envolta em seu cheiro, o que a tocou profundamente. Ela, pela primeira vez, percebeu que ele a amava verdadeiramente.

Luiz, por outro lado, percebeu uma alteração no comportamento de Ana. Ela parecia mais próxima, mais próxima, o que o deixou preocupado. Ele sempre teve consciência de que algo o perturbava, mas nunca conseguiu penetrar na muralha que ela havia construído ao redor dele. Era como se essa muralha tivesse se quebrado de repente.

Ana enfrentou dificuldades para assimilar as imagens do sonho ao longo do dia. Seus pais estavam presentes, demonstrando dor, mas também orgulho, algo que ela nunca havia percebido antes. Seus irmãos, que antes estavam distantes devido às correrias do dia a dia, agora se mostravam em sua mente como companheiros inseparáveis da infância, cúmplices de memórias doces que ela não desejava perder.

Luiz encontrou Ana sentada no sofá, olhando para as fotografias antigas que possuía em sua residência. Ele chegou perto dela e ela, sem dizer nada, o abraçou. O abraço foi longo e cheio de sentimentos ocultos. Ele a apertou contra ele, percebendo a sua vulnerabilidade, e, pela primeira vez em muito tempo, percebeu que ela estava presente de forma completa.

— "Tenho um sonho estranho", ela concluiu, finalmente. — Pensei que tivesse perdido você... Fiquei pensando que tinha perdido todos... Apenas neste momento percebi o quão importantes vocês são para mim. O quanto sou amada, mesmo quando não posso perceber isso.

Luiz olhei Luiz com ternura, os olhos brilhando.

— Nunca tive a intenção de lhe perder, Ana. Nem nos períodos difíceis. Se fosse possível, faria tudo para ver você feliz.

Ela concordou, deixando as lágrimas escorrerem de forma calma pelo rosto.

— É claro que... Estou agora apreendendo essa compreensão. Peço desculpas pelo meu excessivo afastamento. Apenas sou eu mesmo... Apenas estava apavorada.

— Ele sussurrou, beijando o rosto dela. — Estamos sempre juntos nessa questão, sempre estivemos.

Naquela noite, enquanto Luiz dormia em seus braços, Ana experimentou um alívio profundo. O sonho de ter uma segunda chance era uma oportunidade de redescobrir o amor que a rodeava, um amor que ela ainda não havia percebido. Diante da nova perspectiva apresentada, Ana decidiu dar uma nova chance à vida, ao amor e a tudo o que realmente era relevante. Ela estava viva e isso era o suficiente para recomeçar.

Após o meu suicídio, apaixonei-me pelo meu marido ao vê-lo chorar no chão do quarto, abraçando a camiseta suja de sangue e as minhas fotografias espalhadas pelo quarto. Senti tanto amor nos seus olhos! Além disso, percebi o amor que meus pais nutrem por mim, apesar de, às vezes, serem duros demais. Em meio à tristeza, eles demonstravam, com lágrimas, o orgulho que sentiam por mim e a sensibilidade com os outros.

Naquele estado, percebi que o Zé Bob (meu cão) era tão extraordinário quanto eu poderia imaginar. Sempre que alguém deixava o elevador, ele corria para a porta, aguardando por mim. Ao perceber que não era eu, ele deitou-se na frente da porta e continuou a me esperar.

Fiquei surpresa ao vê-los sentados na sala, com os olhos cheios de lágrimas. Eles se recordavam das brincadeiras que tínhamos durante a nossa infância... Que período agradável! Ao analisar tudo isso, percebi ser amada e desejada por todos. Eles estavam assistindo às nossas imagens em conjunto e chorando por não encontrarem as imagens que procurei.

Após o meu suicídio, percebi o quanto era importante para muitos amigos. Sentiam-se culpados por não tomar nenhuma atitude. À noite, fui ao necrotério para procurar o meu corpo. Aquilo me causou desconforto. Virei-me e disse:

Diversos são os sonhos que tínhamos. Existem diversas formas de relacionamento amoroso. Há uma grande quantidade de pessoas a serem conhecidas. Havia pessoas que a amavam, mas, ainda assim, você jogou tudo para cima. O sonho foi apenas um sonho.

Você, leitor, que leu este conto, deve refletir sobre uma visão que devemos ter sobre a nossa existência, o porquê dela e como viver de forma mais leve.

Ainda está vivo(a) e pode mudar sua vida para sempre.

Ela não é má como aparenta. Há pessoas que o(a) amam e que desejam você por perto! Conceda uma nova chance à vida e às pessoas que estão ao seu redor. A dor pode ser curada através do abraço. Já superou diversas dificuldades, continue tentando!

Antonio Souto
Enviado por Antonio Souto em 07/08/2024
Código do texto: T8123648
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