Aquele jardim
Fazendo minha caminhada de rotina, com a garrafinha térmica, tênis confortável e fone de ouvido no fim de uma tarde com sol fraco passei pela calçada de uma rua onde não costumava ir e vi uma casa que parecia muito antiga, encantadora, grande, com um portão alto que parecia recém instalado. Portão esse que contrastava com todo o restante que parecia ter parado no tempo. A pintura as parede estava desbotada.
Fiquei encantada olhando a casa térrea charmosa, que por fora parece ter um terreno enorme, o jardim grande na frente ao lado de uma espaçosa garagem vazia onde havia em um canto uma casinha de cachorro e dois potinhos.
Fiquei ali por um tempo com os olhos marejados observando dezenas de botões nas roseiras, as folhagens com cores intensas, os vasos com lindos antúrios, copos de leite perfeitos , brancos que pareciam aveludados e pequenas flores coloridas que talvez fossem petúneas.
Admiro tanto pessoas que conhecem nomes de plantas e flores. Não precisa ser alguém com conhecimento profundo, especializado, um botânico. Pode ser apenas um curioso interessado e apaixonado por essas belezas que enchem nossas casas de alegria.
Enquanto eu olhava para os detalhes e me lembrava emocionada da casa de uma das minhas tias e casas parecidas com essa que frequentei na minha infância, dos quintais onde brinquei com primos e amigas, dos jardins nos dias onde ficava onservando as plantas depois de uma chuva forte, vi uma pequena cachorrinha preta vira-latinha saindo da casinha e vindo em direção ao portão.
A grade do portão deixava um espaço entre uma barra e outra de ferro e ali a cachorrinha de olhos castanhos, veio colocar o focinho para receber carinho. Dócil, com pelo macio, uma doçura de patas
Preta como uma pequena pantera ficou um tempão no portão sendo mimada por mim. A casa parecia estar vazia naquela hora. Imaginei que durante o dia a moradora deva sair para trabalhar.
O jardim bem cuidado, a cachorrinha linda, porte médio para pequeno, os pequenos detalhes da arquitetura da casa com vitrô enorme onde devia ser, uma porta de madeira maciça, e o piso vermelho de "caquinhos" (pedaços de variados pisos quebrados aplicados no chão de modo irregular na entrada da casa) me fez supor que ela deva ter sido construída há uns 50 anos, no mínimo.
Outras tardes quando eu for caminhar pelas ruas passarei ali de novo, para ficar namorando aquele jardim, quem sabe as rosas já estejam "abertas", aquele espaço se parece tanto com os jardins das casas onde brinquei. A cachorrinha, um encanto, espero que esteja também ali . Cresci em casa térrea, brincando no quintal com minhas amigas e meus cachorros.