A melhor avó
Foram quarenta dias de convivência entre avó e neto, o primeiro tão sonhado e aguardado por ela. Seria uma avó daquelas que ficam para sempre na memória dos netos.
Amália extravasou de alegria quando o filho chegou com a notícia da gravidez de Suzi. Estavam casados havia quatro anos e a chegada de uma criança na família seria a coroação de novos tempos. Amália estava lutando contra um câncer de mama e o último ano não tinha sido fácil para ela. Mulher determinada e forte. Segura de si e dos seus planos de conquistar uma vida melhor para a sua família.
Trabalhou muito para chegar aonde chegou. Havia poucos meses que a família tinha se mudado para a casa dos sonhos. Erguido tijolo por tijolo com o suor dela, do marido e dos dois filhos que, desde pequenos, foram instruídos pela mãe a batalharem juntos para alcançarem os objetivos e sonhos. Quando os filhos reclamavam de algo, a mãe costumava dizer “puxem pelas forças, vocês são jovens e não é hora de fraquejar”.
A doença chegou no momento mais feliz de sua vida até então. Casa nova, estabilidade financeira e agora a notícia do primeiro neto. Ligou para todos os parentes, contando que seria avó. Mal podia esperar. Fez planos e tricotou o primeiro sapatinho para o neto (ou neta).
A nora e o filho, mudaram-se para a casa dos sogros já no final da gravidez, porque a saúde de Amália havia se complicado. Após uma série de exames, a notícia não foi boa. Foi um golpe duro para a família saber que o prognóstico era ruim. Talvez restassem apenas alguns meses de sobrevida.
As festas de fim de ano não tiveram o mesmo brilho dos fogos de artifício que costumavam apreciar juntos na virada, quando os ponteiros do relógio anunciavam o romper de um novo ano. Esperança de tempos melhores. Mas agora era diferente. Amália sabia que este seria o último. Beijou o esposo e os filhos, e acariciou a barriga da nora. Olhou para o céu e agradeceu. Tinha uma família linda.
Fabiano nasceu na segunda semana do ano. Janeiro, mês de recomeço, calor intenso, dias longos e céu azul. A primeira visita no hospital foi feita pela avó, acompanhada pelo filho mais velho, pai do bebê. Havia urgência que conhecesse logo o primeiro neto.
No retorno para casa com o pequeno, encontraram Amália parada aos pés da escada que dava para o piso superior da casa. O filho pediu que a mãe se sentasse no sofá da sala e com cuidado colocou o bebê em seu colo. Foi a primeira e única vez que pôde ter o neto em seus braços. Foi tempo suficiente para tornar aquele momento único e especial.
A quarentena de resguardo da nora foi passada sobre o olhar atento de Amália que, mesmo sem conseguir levantar-se sozinha da cama, observava cada movimento da nora, alertando-a para que não fizesse esforço físico para não prejudicar a sua recuperação. Amor demonstrado da forma mais sublime, nos cuidados que palavra nenhuma pode substituir.
A despedida foi numa manhã de sol intenso, assim como o choro do neto recém-nascido que soou como um grito de contestação pelo destino que o privaria de construir tantas memórias ao lado da avó. Não havia dúvidas de que teria sido a melhor avó.