Sombras de um Stalker
Tudo começou quando eu tinha quinze anos. O conheci numa festa, aliás, ele me conheceu, porque eu nem reparei nele. Desde então, descobriu o número do meu telefone e começou a mandar mensagens todos os dias. No início eu respondi, porque me pareceu indelicado não responder, mas conforme foi se sentindo mais “íntimo” começou a ser desrespeitoso, me elogiando em demasia e isso me deixou com raiva.
Quem é aquela garota? Nunca tinha a visto, ela parece legal.
— Ei, Brás, quem é aquela ali?
— É a filha do Jair, desencana cara, ela é muito nova para você.
— Que nada, vou conquistar essa princesa.
E foi assim que conheci ela. Era miúda, delicada, cabelos negros, um olhar que me fez perder o rumo. Não sei explicar, mas eu me apaixonei de uma maneira que eu nem sabia ser capaz de existir.
Descobri o número do telefone dela e mandei uma mensagem me apresentando e perguntando como ela estava. Infelizmente disse não se lembrar de mim, mas eu disse que nunca mais ia me esquecer.
Era muito tímida, quase não respondia aos meus elogios. Falei que gostava de como ela sorria, como balançava o quadril enquanto dançava, seu rabo de cavalo levantando e descendo conforme a música, todo seu jeito me deixava exaltado e eu sonhei com ela por dias. Só agradeceu pelos elogios e disse que tinha que estudar e talvez algum dia a gente se visse de novo.
Ora, ela gostou de mim, caso contrário não queria me ver de novo.
Ele continuou mandando mensagem, não respondi mais. Então ele apareceu na porta da minha escola. Eu nem o conhecia e me surpreendi com sua voz, porque era a voz das mensagens que ele deixava na minha caixa postal.
— Oi, gatinha. — Eu disse, ansioso. Minhas mãos suavam estavam trêmulas. — Seu telefone estragou? Você não respondeu mais minhas mensagens.
— Oi. Eu tenho que ir, preciso estudar. Depois a gente se fala.
Ela saiu andando de braços dados com uma amiga e nem olhou para mim. Fiquei chocado. Achei que ela iria me abraçar e dizer que estava feliz em me ver. Corri de encontro a ela e lhe ofereci o buquê de rosas que eu carregava em minhas mãos.
— Não precisa, muito obrigada. — Desvencilhou de mim e não pegou o buquê.
Meu coração acelerou e um calor subiu pelo meu corpo, com assim ela iria recusar meu buquê?
Ele me ofereceu rosas, mas não aceitei. Quem ele pensa que é? Eu já disse que não quero. Mas ele me olhou com um olhar tão forte, tão fugaz que um calafrio percorreu meu corpo. Ele cerrou os olhos e disse entredentes:
— Eu comprei especialmente para você, por favor aceita.
Com medo, eu peguei e agradeci, mas disse que não se preocupasse mais, porque eu não queria presente algum.
Ela se arrependeu e pegou as rosas, decerto não havia pensado direito. Ela é linda de perto. Foi embora com sua amiga e me deixou ainda mais apaixonado. Mandei uma mensagem demonstrando todo o amor que eu queria lhe dar, todo o prazer que eu poderia lhe ofertar, mas ela não respondeu. Estava cansado disso.
Ele apareceu novamente na porta da minha escola, na saída da aula. Eu passei direto e nem o olhei, mas ele correu e me segurou forte pelo braço.
— Ei, garota, eu vim aqui só para te ver, sabe quantos quilômetros eu andei? Pode pelo menos me dar um abraço?
Fui pega de surpresa com o forte aperto de sua mão em meu braço, fiquei desconcertada e com medo.
— Me solta, por favor. Você está me machucando.
— Você não viu nada, vou te machucar é na cama. Vem comigo e vou te fazer ver estrelas.
Puxei meu braço com força e ele me soltou, corri de encontro aos meus amigos e segurei na mão de um deles que percebeu que havia algo de errado.
— Este aqui é o Rafael, ele é meu namorado.
Como assim ela tinha namorado? Só podia ser uma brincadeira com minha cara, eu viajava longe para vê-la, gastava horrores de crédito de telefone para falar com ela e ela me vem com essa de namorado?
— Isso é mentira! Deixa de ser cretina, fala a verdade! Você não me quer mais, é isso?
Ele era um cara louco, eu nunca o quis! Ele veio andando com passos firmes e com as mãos cerradas, me encarou com fúria, seu rosto contorcido e me puxou, arrancando-me dos braços do meu amigo.
— Ei, cara, qual é? Você tá maluco? — Meu amigo disse, tentando me tirar das mãos dele. — Solta ela agora!
— Ou o que, seu moleque? Sai fora daqui antes que eu quebre sua cara. Isso não é assunto seu.
Ele me arrastou alguns metros e eu comecei a gritar, juntou mais gente vendo essa cena chocante e começaram a gritar para ele me soltar. Vendo que não tinha alternativa, subiu na moto e saiu acelerado.
Vou matar aquela garota nem que seja a última coisa que eu faça. Ninguém nunca desdenhou de mim dessa forma. Ela vai ser minha ou não vai ser de ninguém.
O carro estava em sua frente, ele tinha pressa de chegar, não adiantava buzinar, teve que fazer uma ultrapassagem, mas vinha outro carro em sentido contrário. A moto bateu em cheio e ele voou por cima do automóvel. Som de freios, cheiro de queimado e ele perdeu os sentidos.
Passaram-se três meses em paz, até que ele me mandou uma nova mensagem:
“Oi. Queria te pedir desculpas pelo que aconteceu, não tive a intenção de te assustar. Sofri um acidente e estou com as duas pernas engessadas, não vou poder ir te ver.”
Pensei muito e resolvi responder. Disse que tudo bem e desejei que ele melhorasse, mas que não viesse mais atrás de mim ou eu ia chamar a polícia.
Ele ainda mandou algumas mensagens e deixou outras na caixa postal, muitas vezes à noite, chorando e dizendo que sentia saudades. Até que um dia ele parou de mandar mensagens, sumiu. Eu nunca mais ouvi falar dele.
Aquela vadia não vale o meu esforço. Agora tenho que andar de cadeira de rodas até para ir à padaria. Mas nem é tão ruim assim, porque a atendente é muito legal comigo, ela coloca os pães numa sacola e sai de trás do balcão para me entregar em mãos. Até empurra minha cadeira para fora e sorri tão gentilmente...
(baseado em fatos)