A mala
Márcia era uma mulher muito ciumenta.
Num dia qualquer, enquanto terminava de preparar o jantar, ouve uma conversa no telefone. Pôs-se atenta. Queria descobrir alguma coisa que poderia incriminar o marido, que na cabeça dela, vivia dando trela a qualquer rabo de saia.
"Sim, tens razão. Esta está muito velha, fora de moda . Preciso trocar urgente! Vou pegar uma moderninha, fininha, sofisticada, cheia de opções! Cansei dessa velha! Essa traseira dela, ficou horrível! Só serve para ocupar espaço! Está decidido! Vou trocar!"
Ao desligar o telefone, antes que desse de cara com ela atrás da porta, correu e entrou no banheiro, ligou o chuveiro e simulou um banho, na verdade foi chorar a desgraça que vinha tomando conta de tudo em sua volta. "Eu mato este desgraçado!"
No dia seguinte, logo após o café, ele despediu-se, dizendo:
"Tenho que sair, não vou trabalhar hoje, tenho um encontro para resolver uma questão.
Ah! Aquelas palavras soaram como um punhal enfiado e girado em várias voltas, no seu peito. Não teve outra reação a não ser chorar e chorar! “Um casamento de tantos anos, uma família linda, como ele tem coragem?” Pensava.
Quando o marido voltou, carregava um sorriso patético, que ia de um canto a outro. Ela pensou: " não direi nada, vou fingir que não sei de tamanha traição."
Ele, feliz como uma criança que acabou de receber um brinquedo novo, pegou o telefone e fez outra ligação. Ela ficou de ouvidos atentos, queria gravar aquela conversa, seria uma prova a seu favor.
"Encontrei. É lindona! Fininha do jeito que estava procurando. Continuou: "deixei no carro por enquanto, preciso decidir algumas coisas aqui, como espaço, por exemplo, vou comprar também alguns acessórios, ficará chique."
Márcia, de orelhas de pé, acompanhando e gravando tudo. A conversa no telefone se estendeu: "agora tenho um problema, não sei o que fazer com a velha! Está aqui sem nenhuma serventia! Amanhã darei um jeito.
A confusão estava armada. Márcia não tinha mais nenhuma dúvida, estava sendo traída e logo entraria para o time das separadas e ainda com risco de desaparecer do mapa.
Ele desligou o telefone e saiu sem dizer onde estava indo.
Márcia logo deduziu: " Foi encontrar com a vagabunda." "Irão se encontrar no carro, com certeza!"
Decidida, pegou uma mala e começou a colocar tudo que achava que seria o bastante para expulsá-lo de casa. "Aqui ele não fica mais!" Colocou a mala no meio da sala, sentou no sofá e ficou aguardando o marido voltar.
No meio da tarde ele chega buzinando e pedindo para que ela descesse. Logo pensou: "se ele acha que sou eu que tenho que sair de casa, está enganado." Desceu as escadas quase correndo, carregando uma vassoura na mão e cheia de ódio!
Ele, todo sorridente, retira uma imensa caixa do carro e pede sua ajuda: "olha que belezura, me ajude aqui." Sem entender nada, ela pega de um lado da caixa, enquanto ele segura do outro. Seguiram para dentro da casa. Ele entusiasmado com a grande aquisição, não parava de falar:
" você precisa ver, ela é linda, tela plana, fininha, imagem em alta resolução, já comprei todos os acessórios para o suporte da parede, você vai gostar! Iremos doar a velha."
Sobe as escadas eufórico, não vê a hora de estrear sua televisão nova. Ao entrarem, ele tropeça na mala. A caixa quase vai ao chão e ele entra em desespero: "o que esta mala faz no meio da casa?" "Vai viajar?" Ao que ela responde: "não, são roupas para doação"!
A partir desse episódio a ciumenta Márcia começou a agir com mais cuidado e procurou uma terapia.
No divã:
"Eu quase tive um infarto enquanto meu marido abria a caixa da maldita televisão. "Ainda bem que não quebrou."
A terapeuta querendo saber mais: "e a mala"?
" Após instalar a maldita televisão na sala, ele juntou toda papelada da embalagem, pegou a velha, a mala e levou tudo pro carro, só percebi quando ele voltou falando: "Querida, cheguei! Entreguei a mala de doação lá na instituição !"
"Por isso estou aqui."