O PESO DO PASSADO

Busquei no vento o que tinha perdido. O vento, num assobio, me respondeu: "Sua vida está perdida. Não tem mais jeito." Intrigado fiquei. Muitas coisas ruins eu fiz pelos quatro cantos deste país. Será que tudo está perdido? Será que minha vida não tem mais jeito?

De cabeça baixa, fiquei pensativo. Veio em minha mente meus pais, meus irmãos. Onde estarão? Estarão vivos? Como estão? Quanta tristeza... No meu rosto, uma lágrima ensaia em cair.

Perambulando pelas ruas, a cada rosto tento me encontrar. As bebidas, as drogas hoje são minha família. O peso do passado e das escolhas erradas me sufoca. O vento, testemunha silenciosa de minhas andanças, parece carregar minhas lamentações.

Uma noite, sentado na calçada, olhando o céu, lembrei de quando era criança. Tinha sonhos, esperança, amor. Onde tudo isso se perdeu? A resposta vinha, cruel e sussurrante: nas minhas escolhas, nos meus erros.

Os dias se arrastavam, e eu, perdido no meu próprio deserto, buscava algo para agarrar. Um rosto amigo, uma palavra de conforto. Mas todos eram estranhos, e eu, invisível. A solidão me consumia.

Num momento de desespero, decidi procurar ajuda. Em um centro de recuperação, encontrei pessoas como eu, perdidas, mas tentando se encontrar. Lá, conheci histórias de superação, vi lágrimas e sorrisos. E, pela primeira vez em muito tempo, senti um fio de esperança.

Comecei a acreditar que talvez, só talvez, minha vida pudesse ter jeito. Cada dia era uma batalha, mas a vontade de mudar crescia. Com ajuda, reencontrei meus pais, meus irmãos. Não foi fácil, mas a reconciliação trouxe paz ao meu coração.

O vento, que antes trazia desespero, agora soprava suave, como um carinho. A cada passo, a cada conquista, percebia que a vida tem jeito sim, basta acreditar e lutar. E assim, pouco a pouco, fui reconstruindo o que um dia pensei ter perdido para sempre minha vida.

Paulo Pereira