Terça Feira

Lucy sorria, deitada ao meu lado. Como se fosse imune à passagem do tempo.

Fazia um bom tempo que eu não tinha ninguém na minha cama. Talvez por isso eu me sentisse um pouco deslocado na situação.

Ainda assim eu estava feliz que ela estivesse ali. Com seus sorrisos e carinhos inesperados. Com seu toque quase assustado. Como quando passava os dedos nas minhas costas, e me puxava mais pra si. Talvez como se sentisse que eu poderia deixá-la a qualquer momento.

Eu gostava do calor dela. Da curiosidade dos seus olhos verdes. Do seu cabelo claro e fininho, que me lembrava muito os da minha avó.

E eu me perguntava o que ela estava vendo quando olhava pra mim. E onde estavam as tantas coisas boas que ela dizia que via no meu rosto. Nos meus olhos...

Lucy tirou do rosto os óculos recém comprados e se esticou pra deixar sobre a escrivaninha.

A falta das lentes parecia dilatar suas pupilas e deixar o seu olhar mais fixo e ansioso.

Eu gostava daquilo. Talvez por acender uma fagulha de vaidade dentro de mim.

Ela ficou séria repentinamente e falou num tom quase solene.

- O que você está olhando em, menino?

- Tô só pensando.

- Pensando em quê, posso saber?

- Em você. Em nós dois.

- E o que tem pra pensar?

- Em como a gente aconteceu.

- Ah. Você finalmente desistiu de me enrolar.

- E você finalmente ficou solteira né?

Ela riu e murmurou.

- É verdade.

- Você ainda deve estar processando o fim né? - Perguntei.

- Tô sim. Mas acho que estou indo bem. Uma hora dessas fica tudo certo.

- Sei bem qual é a sensação.

- Mas é até bom estar solteira. Agora eu posso voltar a ser quenga. Voltar a estar viva. Ficar com quem eu quiser. Conversar com quem eu quiser. Sair com meus amigos sem ter que me preocupar com ciúme besta e desconfiança.

- Você nem é tão quenga assim, menina. Tu és é uma emocionada.

- Sou mesmo, meu amor. E ta tudo bem assim.

Dessa vez fui eu que ri.

- Deve ser maravilhosa a sensação.

- Pois eu quero demorar um bom tempo antes de me amoitar de novo. Agora eu quero amar um monte de gente, um pouquinho de mim pra cada um. Mas sem nenhuma prisão... Assim...

Ela me empurrou e pulou em minha direção bem devagar.

Montou e forçou as mãos contra o peito enquanto se encaixava.

Lucy cavalgou até perder o fôlego, depois caiu de lado na cama. Me puxando pra cima.

Eu fui de cabeça. Começando pelo meio de suas pernas.

E quando eu estava já chegando lá, ela prendeu meus cabelos com as mãos e me segurou firme.

Então, ela se contorceu, e parou de se mexer, depois de esvaziar todo o ar que tinha dentro de si.

Eu me aninhei do seu lado e ela inspirou profundamente, empurrando a cabeça contra o meu peito. Como se procurasse um buraco para entrar e desaparecer dentro de mim.

Nossas pernas, entrelaçadas. O calor úmido contra a minha pele. Tudo parecia adequado e no lugar certo.

- Nesses momentos eu acho tão mais fácil estar com um homem do que com uma mulher... - Ela falou, quebrando o silêncio.

- O que tem de diferente?

- O homem é tão mais simples. Tão mais simplório... Se a mulher é uma bicicleta de 21 marchas, o homem é uma daquelas barra forte. Dura e pesada. Mas qualquer um consegue andar. Na mulher são tantas perspectivas e mudanças possíveis, que às vezes eu tenho medo de travar ou derrubar a corrente.

- Você pode estar certa quanto a isso.

- Você já ficou com homens?

- Nunca. Nunca tive sequer vontade.

- Ah. Se é assim, tudo bem...

Fiquei calado, encarando... tentando entender um pouco de como funcionava a cabeça dela.

- E vocês homens são assim meio travadões pra mostrar as próprias emoções... Como se isso fosse fazer vocês menos homens. - Ela continuou.

- Mas eu sou mais emocionado até do que eu deveria...

- Mas... Mas você poderia gemer mais, por exemplo. Nem parece que tá gostando.

- É obvio que eu estou gostando... só que eu não sou tão vocal durante o sexo...

- E nos outros momentos fala que nem um papagaio... vai entender.

- Nunca disse que eu era coerente.

- Mas você tem medo de parecer o quê?

- Quanto a isso eu não tenho medo nenhum. Só acho que eu tenho uma forma diferente de me expressar nessa hora.

Da próxima vez você vai ter que observar com mais cuidado pra entender.

Ela sorriu riu... Talvez pensando em como seria a próxima vez.

A chuva que desatava a cair do lado de fora, pareceu começar a dar uma trégua. E depois de um instante de silêncio, Lucy se afastou rispidamente e se sentou na cama.

- Tá na hora de eu ir embora né? Já ta ficando tarde.

- Certo - eu disse, caindo de costas na cama.

Lucy foi se levantar e eu a segurei por uma perna. Ela olhou pra mim. Com os olhos arregalados de uma surpresa curiosa.

Eu a puxei pra perto e forcei contra o lençol.

Ela abriu a boca e murmurou....

- To vendo agora.

Começamos de novo, logo quando a chuva voltou a desabar. Enchendo o quarto de um ar frio e úmido...

Mas eu estava seguro dessa vez.

Era terça feira,

um bom começo de semana...

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 03/07/2024
Código do texto: T8099374
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