Um pouquinho de sossego - BVIW
Tema: horinhas de descuido
Sabina correu para o pomar da fazenda, levando no bolso do avental um cigarro. Merecia uma horinha de prazer, só ela, depois de toda a correria da manhã, cuidando da casa, da família e dos animais de estimação. A casinha, construída no alto da serra, tinha de lá uma vista magnífica! Via-se os outros montes, empastados ou não, pintados de branco aqui e acolá - a cor do gado Nelore. Lá, bem na frente, se avistava o Morro do Palhano, que sempre a lembrava do Pequeno Príncipe e a história da cobra que engoliu o elefante. Acendeu seu cigarro e pôs-se a admirar a paisagem bucólica, cheia de paz. Correu os olhos pelos pés de fruta, examinando a saúde e se não havia formigas ou fungos. A amoreira estava cheia de amoras maduras e aproveitou para experimentar algumas, pintando dedos e boca de roxo. Depois, correu para o canteiro de margaridas, deitou sobre ele e ficou admirando o céu de um azul mais bonito, contrastando com as nuvens brancas. Adivinhou o que seria uma e outra nuvem, rindo de uma que parecia com seu cachorro Simão, latindo com um ratinho. Tendo descansado, levantou-se, limpando-se das flores e terra, enquanto caminhava para casa. A porta a engoliu inteira. Foi o que testemunhou o gato Givaldo, espiando tudo isso do pé de goiaba, no tronco que faz de cama. Lá de dentro, Joaquim gritava por Sabina: “ô muié, onde ocê andava? Murilo se borrou todinho e ocê sabe que eu não troco fralda de menino pequeno!” O que Givaldo não viu foi o sorriso silencioso que brotou dos lábios de Sabina!…