Gavetas do tempo... BVIW

 

Ela acordou de madrugada e acendeu a luz do abajur, à cabeceira da cama e com cuidado pegou a folha de cerejeira, lembrança da caminhada, quando a encontrou aconchegada a outra folha... Imagem poética e enigmática, refletindo em seus tons e curvatura a passagem do tempo, assim pensava Hellen; “há dentro de mim, algo que nos uni, talvez uma etérea e diáfana breve ponte de vida...”

 

As tonalidades, intensas e suaves, presentes na finitude do outono, despedindo-se da árvore, como se fossem mãos acenando ao toque do vento encantam. A folha ondulada, tingida pelas variações climáticas, têm parte de suas tramas oculta, em sua sutil dobradura; segredos, pontilhismo e mistérios, quais gavetas do tempo, repletas de memórias, amor, desejos, saudade e sonhos...

 

Em sua pele-folha há bordados-mosaicos, entrelaçadas dores, cicatrizes que pontuam, num último alento uma fugaz reverência à Vida, delicadamente, Hellen adormeceu... 

 

. Tema: Dentro de Mim