BOLO DE FUBÁ!

Lucia, uma mulher de trinta e poucos anos, estava sentada em um dos bancos da pequena capela, observando os detalhes do velório de Dona Elvira, uma senhora de oitenta e tantos anos. O clima era solene, com lágrimas discretas e murmúrios de conforto entre os presentes. Lucia respirou fundo e se levantou, caminhando lentamente até o caixão.

 

Enquanto olhava para o rosto sereno de Dona Elvira, ela sussurrou com uma mistura de tristeza, arrependimento e frustração: "Puxa vida, você não esperou o meu bolo, você gostava tanto." A frase parecia simples, mas carregava uma profundidade que apenas Lucia, e talvez dona Elvira, compreendia completamente.

 

Lucia e Dona Elvira tinham uma relação muito especial. Dona Elvira era vizinha de Lucia desde que ela era criança e sempre foi uma figura materna para ela. Elas passavam horas conversando sobre a vida, trocando receitas e histórias. Dona Elvira tinha um carinho especial pelo bolo de fubá que Lucia fazia. Era uma tradição que toda semana Lucia levasse um pedaço fresquinho para ela.

 

Há alguns meses, Dona Elvira ficou doente e foi hospitalizada. Lucia a visitava sempre que podia, levando pequenas guloseimas para tentar alegrar seus dias. Em uma dessas visitas, Dona Elvira mencionou com um sorriso fraco que sentia falta do bolo de fubá de Lucia. Lucia prometeu que faria um bolo especial assim que Dona Elvira estivesse em casa novamente.

 

Com a correria do dia a dia, Lucia acabou adiando a promessa. Entre o trabalho exigente, os cuidados com os filhos e os compromissos diários, ela não encontrava tempo para fazer o bolo. Sempre que pensava em Dona Elvira, prometia a si mesma que faria o bolo no próximo fim de semana.

 

Na última semana, Lucia finalmente decidiu que não poderia adiar mais. Ela se programou para fazer o bolo no sábado, planejando levá-lo para Dona Elvira no domingo. Porém, na sexta-feira à noite, Lucia recebeu a notícia de que Dona Elvira havia falecido. O choque e a tristeza tomaram conta dela, mas também um sentimento de arrependimento profundo por não ter cumprido sua promessa a tempo.

 

A frase de Lucia reflete a transitoriedade a imprevisibilidade da vida e como deixamos para depois coisas que são importantes. É um lembrete de que devemos valorizar os momentos e as promessas que fazemos, pois não sabemos quanto tempo temos com as pessoas que amamos.

 

Lucia carrega o peso emocional do arrependimento por não ter cumprido sua promessa. Isso mostra como pequenos gestos podem ter um grande impacto emocional, tanto positivo quanto negativo. O bolo de fubá não era apenas uma guloseima, mas um símbolo do carinho e da dedicação de Lucia para com Dona Elvira. A relação entre Lucia e Dona Elvira era profunda e significativa.

 

A simplicidade do bolo simbolizava a riqueza dessa conexão. A frase de Lucia revela a importância de cultivar e valorizar essas relações, não apenas através de grandes gestos, mas também nas pequenas coisas do dia a dia.

"Você não esperou o meu bolo" pode ser interpretado como um chamado à urgência de viver o presente, de não adiar demonstrações de afeto e atenção para aqueles que nos são queridos. É um convite a agir agora, a não esperar pelo momento perfeito, pois ele pode nunca chegar.

 

Há coisas na vida, a maioria delas, que não carecem do planejamento que fazemos como desculpa de não fazer de imediato, o que não tem absolutamente nenhuma necessidade de ser adiado, sob pena de eterno arrependimento.

 

Lucia permaneceu ali, ao lado do caixão, deixando as lágrimas escorrerem livremente. Sua frase ecoava em sua mente, e ela sabia que a memória de Dona Elvira e a lição que aprendeu com essa perda a acompanhariam para sempre. Aquele simples bolo de fubá, que nunca chegou a ser entregue, tornou-se um símbolo do valor de cada momento e da necessidade de viver plenamente cada dia.

 

Não podemos nos dar ao luxo de achar que as coisas devem acontecer obrigatoriamente como programamos.