Um dia
Morgana acordou para mais um dia claro e luminoso. Imóvel, viu o sol chegar devagar e aquecer suas pernas muito esticadas. As flores ao redor pareciam gigantescas ___ será que estava tendo mais uma daquelas alucinações? Também as plantas e as árvores, altíssimas. Quando pensava em um dia ter que atravessar aqueles troncos por qualquer motivo, sentia-se desfalecer. Continuou avaliando a paisagem, esperando que surgisse algum inseto incauto. Adorava os insetos, sobretudo aquelas moscas azuis, gordas, de corpo irisado e olhos imensos. Será que enxergavam o mundo em 3D? Luz e sombra, luz e sombra, assim se alternava o cenário. Dançou com o vento leve que perpassou seu corpo e teve um ligeiro estremecimento. Deslocou-se um pouco, para mais perto do sol, para ter uma visão mais panorâmica do seu entorno. Ah! Eis que a mosca azul se aproximava, era por ela que tinha estado esperando todo esse tempo. Encantadora, assim vestida de azul brilhante, como a admirava! Seu voo era sublime, o barulho do roçar das asas como o farfalhar de um vestido de seda no salão de baile. Ficou ainda mais quieta, mais imóvel. Quando viu a belíssima varejeira enredada em sua teia, caminhou apressada ao seu encontro, injetou o veneno paralisante, e sem pensar duas vezes, devorou-a com largo apetite.