CURIOSIDADE MATOU O GATO
Na pequena cidade de Muralha, havia uma lenda antiga que todos os moradores conheciam bem. Contava-se que, em uma colina isolada, havia uma casa velha e abandonada, onde ninguém se atrevia a ir. Diziam que aquele lugar era amaldiçoado, e os poucos que se aventuraram até lá nunca mais foram vistos.
Miguel, um jovem rapaz de dezesseis anos, sempre foi curioso por natureza. Desde pequeno, gostava de explorar os cantos mais remotos da cidade, descobrindo segredos e histórias que ninguém mais conhecia. Quando ouviu a história da casa na colina pela primeira vez, sua curiosidade foi imediatamente despertada.
Seus amigos riam da ideia de investigar a casa, chamando-a de "a aventura do tolo". No entanto, para Miguel, a chance de desvendar um mistério era irresistível. Ele passou semanas planejando a expedição, esperando o momento certo para explorar o local.
Numa noite sem lua, enquanto a cidade dormia, Miguel pegou uma lanterna, sua velha mochila e partiu em direção à colina. O vento frio uivava entre as árvores, e as sombras dançavam à luz trêmula de sua lanterna. Quanto mais se aproximava, mais seu coração batia rápido, uma mistura de medo e excitação.
Ao chegar à casa, Miguel parou por um momento, admirando a construção antiga e decadente. A porta de madeira estava entreaberta, rangendo com o vento. Respirando fundo, ele empurrou a porta e entrou.
Dentro da casa, o ar estava pesado e cheirava a mofo. A mobília velha estava coberta por uma grossa camada de poeira, e as teias de aranha pendiam do teto como cortinas macabras. Miguel avançou com cuidado, observando cada detalhe, procurando qualquer pista que explicasse a maldição.
Ao subir as escadas que rangiam sob seu peso, ele ouviu um som fraco, quase como um sussurro. Seguindo o ruído, encontrou um quarto pequeno, onde uma velha caixa de madeira estava encostada na parede. Com as mãos trêmulas, ele abriu a caixa e encontrou um diário antigo.
As páginas do diário estavam amareladas pelo tempo, mas as palavras ainda eram legíveis. A história ali contada era de um homem chamado Henrique, que havia vivido na casa há mais de cem anos. Henrique era um alquimista obcecado pela vida eterna. Após anos de tentativas fracassadas, ele finalmente descobriu uma fórmula, mas com um terrível custo.
Na última entrada do diário, Henrique confessava ter se transformado em algo inumano, preso para sempre na casa que agora era sua prisão. Ele alertava qualquer um que lesse aquelas palavras para não cometer o mesmo erro, pois a curiosidade poderia ser fatal.
Miguel sentiu um calafrio percorrer sua espinha. De repente, a porta do quarto se fechou com um estrondo. A lanterna piscou e apagou, mergulhando-o na escuridão total. O sussurro que ele ouvira antes agora era um rugido de vozes indistinguíveis, crescendo em intensidade.
Desesperado, Miguel tentou abrir a porta, mas parecia trancada por uma força invisível. Sentiu algo frio e pegajoso tocar sua perna, e quando olhou para baixo, viu uma sombra se movendo, tomando forma. Uma figura esquelética, com olhos brilhantes e vazios, apareceu diante dele.
A figura falou com uma voz que parecia vir de todos os cantos do quarto:
— Você leu o diário. Agora, você pertence a esta casa, como eu. A curiosidade trouxe você aqui, e ela será sua ruína.
Miguel gritou por socorro, mas seu grito foi engolido pelo silêncio da casa. As sombras o envolveram, e ele sentiu seu corpo ser puxado para o chão. A última coisa que viu foi o sorriso macabro da figura esquelética antes de tudo se apagar.
Na manhã seguinte, os moradores de Muralha perceberam a ausência de Miguel. Procuraram por toda a cidade, mas ninguém se atreveu a subir a colina. A lenda da casa amaldiçoada ganhou mais uma página, e a história de Miguel serviu como um aviso para as futuras gerações.
A curiosidade, afinal, matou o gato.