O Novelo
A menina aprendera ainda pequena, a tricotar com a avó. Sentadas as duas na sombra da varanda em tardes ensolaradas, segurava nas agulhas canhestramente e tinha uma dificuldade enorme para dar as laçadas e passar os pontos de uma agulha à outra. Mas tempo e prática são bons professores, e logo foi capaz de fazer um cachecol colorido com franja e tudo. Chegado o Natal, embrulhou o cachecol em papel de seda, amarrou com uma fita larga de cetim, desenhou um cartão e colocou o presente debaixo da árvore iluminada pelo pisca-pisca. Quando a avó abriu o presente, ficou emocionada. E desde aquele dia, nunca mais tirou o cachecol do pescoço, fizesse calor ou frio. E no rolar initerrupto das estações, aconteceu uma tarde ensolarada de inverno no quintal onde a menina brincava de perseguir besouros. Uma súbita rajada de vento trouxe o fio de lã furta-cor para perto dos seus pés. Que engraçado! Era igualzinho ao que usara para tecer o cachecol da avó! Pegou a ponta e foi enrolando, formando um pequeno novelo que engordava à medida que ela seguia o caminho que ele ia indicando. E ao chegar a sombra da varanda, lá estava a avó, a segurar a outra extremidade do fio. Depositou com muito cuidado o novelo de lã em suas mãos, como se lhe entregasse um pequeno mundo. Ela então sorriu, acentuando as rugas da face absolutamente serena, e devagar, cerrou os olhos.