O GRANDE ENCONTRO - BVIW
Estela tomava um café com um salgado em uma lanchonete quando viu o casal sentar-se com outro. O café estava quente como o dia e o salgado parecia grande demais para o expresso. A moça segurando o bebê parecia estudante descolada e o rapaz ao seu lado, tímido e jovem demais para ser pai. Tinha traços delicados no rosto, era magro, bem magro, mas tinha uma feição calma e confiável. Estela já tinha passado o raio x, a tomografia, estava prestes a iniciar a ressonância magnética no moço quando ele lhe comunicou olho no olho que ela devia parar de olhar tanto assim para ele. Estela desviou o olhar sem desistir da ressonância. Se pudesse o filmaria. Se não fosse a mulher do lado, ela até se aproximaria. De tanto mirar o mocinho o café esfriou e o salgado foi mastigado lentamente. Ficou o tempo que eles ficaram. Saiu praticamente junto. Queria vê-lo andando, queria vê-lo em outras situações. Se pudesse queria ouvir a voz dele. Mas se conteve e apenas acompanhou um pouco o casal de longe. Ele carregando a mochila do bebê, ela com o bebê no colo. - Menina! Eu vi um menino que é a cara de um dos personagens do meu romance. - Como assim?!
- A característica física dele combina com o que já escrevi sobre o “ Lucas”. Eu vi o menino e enxerguei o “Lucas” nele. Uma identificação física e social. Ele percebeu que eu não parava de olhar; mas estava ali, em minha frente o meu personagem. Tal qual imaginei quando o criei. Ele ali, caracterização viva! Então pensei que tinha só aqueles instantes para decorar o rosto dele. Fiquei tão feliz. Só Deus sabe o que ele deve ter pensado de mim.
-- Talvez pensou que você fosse alguma tia doida.
- Sim! Pode ter pensado isso. Eu queria era pegar ele emprestado e colar ele de vez dentro do meu livro.