O Reino que não sorria

Um velho rei de um país distante vivia com seus súditos com muita riqueza e conforto em um castelo nas montanhas de Al Dubar. Região de clima ameno, muitas florestas, bosques preservados e rios de águas cristalinas.
Toda a riqueza era proveniente da extração de diamantes que naquela região era muito abundante.
Perto do castelo ficavam as minas que eram exploradas pela família há várias décadas e de onde vinha toda a riqueza, visto que os diamantes produzido ali eram de uma beleza rara e de pureza incomum.
Todo o luxo e conforto que se podia comprar era pouco para tanta pedra extraída e tão poucos para usufruir desse bem que a natureza cedeu gratuitamente.
Num contraste sem precedentes viviam os escravos do rei, sem nenhum direito a receber qualquer fatia da produção das minas. Recebiam apenas toscos instrumentos de trabalho e uma alimentação á base de uma sopa que era servida com as sobras do que se servia a família real.
Todos viviam infelizes, fracos e doentes, acreditavam que aquela era a vida que receberam e se sentiam incapazes de reagir, até porque todos os que tentaram foram capturados e receberam a pena máxima, e o corpo exposto em praça pública.
Vendo a morte se aproximar, o velho rei observou que seu povo era infeliz, ao andar pelas ruas via-se uma tristeza imensa estampada nos rostos das pessoas, as crianças tinham um olhar diferente de todas as outras de outros reinos que visitara.
Os adultos usavam vestes cinzas, sem nenhuma cor, não havia festas,todos dormiam cedo e os dias pareciam iguais sem distinção. O que mais lhe chamou a atenção, entretanto era o fato de que nunca havia percebido que as crianças nunca sorriam, viviam sempre tristes e mostravam nos olhos uma solidão inconfundível.
Diante disso, o rei, querendo se redimir, chamou os três filhos e fez a seguinte proposta: será coroado rei aquele que apresentar a melhor proposta para governar, desde que conseguissem trazer o sorriso nos rostos daquelas pobres crianças.
O filho mais velho, acostumado a mordomias, sem pensar disse ao pai: eu não modificaria em nada a sua conduta, afinal temos tudo que queremos e o mais importante é que nós estamos felizes, bem vestidos e alimentados, os outros é que se danem, eu não me comovo com a tristeza deles.
O segundo filho, disse: pai, vamos juntar em todo o castelo as roupas, os calçados e outros pertences que não queremos mais, vamos doa-los ao povo, vamos fazer uma grande festa, convidaremos toda a população e repartiremos pela primeira vez carne e farinha para cada família até se fartarem, assim, tenho certeza que o povo voltará a sorrir.
O filho mais novo, entretanto fez a seguinte proposta ao pai:
Pai, somos donos de um reino riquíssimo, temos uma população muito pequena, mas miserável, se quiser que o povo seja feliz e volte a sorrir, pegue as três pedras maiores de diamantes que está em sua coroa, avaliadas em alguns milhões de dólares, e venda, doe ao povo. Isso não lhe fará nenhuma falta e possibilitará a construção de casas, escolas, hospitais, contratação de professores para tirar o povo do analfabetismo e ainda comprar máquinas perfuratrizes modernas que acabará com o trabalho escravo, tornando os operários treinados, com salários dignos e direitos como nós sempre tivemos.
Além do mais, essas pedras só servem de enfeites e status e não conferem nenhuma dignidade ao nosso reino,
Tudo será feito com o que nos sobra, pouco teremos que investir, e a nossa produtividade será  ainda aumentada de maneira tal que aumentaremos a nossa exportação.
Vamos pagar aos operários por produção, vamos tratar dos velhos e doentes, vamos estabelecer um horário de trabalho.
Essa é a única maneira de fazer esse povo feliz e trazer o sorriso de volta.
O rei, percebendo a sensibilidade do filho mais novo, reconheceu que ele seria o único capaz de trazer aquele sorriso perdido de volta.
Os outros filhos estavam impregnados com tantos anos de domínio e escravidão e seriam incapazes de cumprir o que fora pedido.
Assim foi feito.
Tudo saiu como o combinado. O rei passou a ele a coroa e este a fazer o que havia prometido.
O rei aliviado ainda viveu para ver os primeiros resultados do que havia pensado em fazer.

Renato Paes
Set/99
Renato César Nunes Paes
Enviado por Renato César Nunes Paes em 06/01/2008
Reeditado em 16/01/2008
Código do texto: T806071
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