Eu nunca fui
São incontáveis as vezes em que eu escrevi sobre não conseguir sentir que estava viva ou ao menos que eu existisse de verdade, mas de fato é uma sensação recorrente que me assombra noite após noite, em alguns momentos eu consigo sentir que não faço parte da mesma dimensão, tudo fica meio turvo, as pessoas parecem distantes e os móveis tão inacessíveis, como se eu me desintegrasse gradualmente, olho para minhas mãos... E respiro, ninguém entenderia, no fundo eu penso que de fato ninguém me ouve, não se escuta fantasmas, eles são apenas sentidos como um leve vento cochichado na espinha dorsal, pode ser o Borderline ou até mesmo minha síndrome de Cotard me abraçando, eu sou um cadáver ambulante que ainda se importa.
O que realmente me deixa inquieta, até frustrada, eu diria é que não sou um indivíduo à parte dos meus transtornos, minha felicidade tão esmagadora é um episódio maníaco, minha tristeza intensa é uma forte depressão, as visões torpes são delírios e minhas oscilações de humor chovem em mim, minha cabeça é uma tempestade em um copo d'água, nunca fui apenas eu, pois Eu não existo. Minha criatividade e amor pela arte que me faz chorar ao mínimo de interação vem do pressuposto dos Sintomas, tudo que Eu amo verdadeiramente na realidade não amo. Talvez eu seja apenas um recipiente.
Não existe uma Elida com borderline e depressão, existe A Borderline e Depressão com Elida, é como se eu fosse um parasita querendo ter uma voz própria em meio a tantas tão maiores que eu em um corpo só, então eu realmente nunca existi? Eu nunca amei alguém de verdade? Eu nunca chorei por ser ferida, nunca sorri ao ver o mar e nem ao menos senti paz ao observar uma borboleta pairando pelo céu? Se todo esse fogo avassalador que carrego no peito é apenas um simples sintoma de uma doença o que sobra de mim? Por que um morto ainda quer ver mais da vida como se fosse...?
(...)Vivo.