FARDA LUMINOSA- revisado em 07/05/2024

Quando de repente acordei, eu estava em um submarino, sem compreender o que acontecia. Bati nas janelas pequenas, que tinham fortes lentes e ampliavam a vista de todos os seres daquele mar de trevas, onde me encontrava, podia ouvir som de batidas que ele fazia. Eu andava de um lado para o outro e, desesperado, buscava quem conduzia em águas turvas e profundas aquele grande monstro do mar, sem ninguém encontrar. Sem resposta, sentei diante do grande painel e observava, balanços, soluços e pavores, seres horrorosos que sorriam e gritavam, envolvidos no mais profundo sofrimento. Ora fechava os olhos, ora abria, meu Deus, onde estou? Perguntava sem ter uma resposta. O submarino continuava com velocidade de uma tartaruga e elas, ainda deformadas, passavam por mim e me irritavam no que eu mais condenava, a lentidão.

Sentado ali, sem esperança, me entreguei aquela viagem louca e fui conduzido pelo desespero, a cada visão uma lembrança da minha intolerância, com a vida que vivia, e comecei a sentir saudades, da vida em mim. A soberba de um homem fútil, machista, que levou uma jovem a mais pura solidão, adoecida pelo desprezo, dentro de um palácio de ilusões, e carregava o bem mais precioso, que hoje sei, que a vida me dera, só posso me lembrar do brilho daqueles pequenos olhos azuis, quando bati aquela porta. Troquei um lar pelo trabalho e as amizades sinceras pela voraz autoridade. Em meio a esses pensamentos, observei um rosto, que se aproximou desesperado, gritando, enlouquecido pela fúria, tive medo, tirei as mãos do grande painel e me escondi entre as ferragens. Meu coração disparou, mas curioso, decidi olhar novamente. Levei as mãos a cabeça e senti uma forte emoção, quando fiquei diante daquele ser agonizante, que balbuciava com bolhas de água na boca, palavras que eu não conseguia entender, mas não podia acreditar que aquele era eu, completamente descontrolado, mergulhado nas turvas águas, da tristeza. Me lembrei daquelas expressões que deformavam minha existência, e mais uma vez, senti saudades da minha vida, das dificuldades, dos auxílios, dos sorrisos, dos grandes amigos, da família e até dos inimigos. Senti saudades de viver, pois ali, esquecido e sozinho, eu via minha vida se perder.

Cansado de tentar fugir, de culpar o submarino e de culpar o mar, jurei não submergir, eu desejei viver. Deitei a cabeça sobre o grande painel e comecei a orar. O som das batidas desapareceram, um silêncio entrou no meu coração, tive medo, meu corpo esfriou, as águas se acalmaram e eu só consegui sentir a presença de Deus, só ele entraria ali para me buscar, pois quem iria querer me salvar? Respirei, e entendi que não estava sozinho, podia ver pontos luminosos piscando em meio a todas aquelas aparições. Voltei a olhar o painel e as águas se jogaram em minha direção, novamente, fechei e abri meus olhos, por várias vezes e mais uma vez, no desespero mergulhei. E sobre meu rosto, pude com dificuldades ver uma farda luminosa, vestida por um jovem, bem garboso, de olhos brilhantes, Farda luminosa, sim, enviado por Deus, que, com lágrimas nos olhos, gritou a seus companheiros: venham, ele está vivo! Erguido, pude ver em volta uma grande plataforma, que explodia em chamas, onde muitos de meus irmãos morreram, irmãos que viviam do meu lado, mas tinham encerrado a missão . Eu agradecido, nos braços do destemido, chorei novamente, meus olhos quase se fecharam, meu coração disparou, assustado, a minha dor aumentou, quando percebi que vivi descrente e fiquei covardemente ausente, da vida de quem me socorreu.

Autora- Irlene

27/04/2024

IrlaRB
Enviado por IrlaRB em 30/04/2024
Reeditado em 08/05/2024
Código do texto: T8053524
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