Trajetória - BVIW
A pequena Lua chega à porta da noite. Que grande! Que escura! Que cheia de brilhantes! Ruídos à volta, ainda indecifráveis. Saberia com o tempo. Por ora, era o colo quente e os afagos. A sensação de estar protegida. Sentiu que tudo em volta era paz, e poderia adormecer.
Voltando da clínica, a roupa incomodava. Que tinham feito com ela esses que aprendera a amar? Doía e passava quando enfiavam um comprimido na sua goela. Estava triste, só queria ficar sozinha, no seu cantinho da casa, escondidinha, tapando os olhos. Queria escuro e solidão como a noite de lua nova.
Não era totalmente livre, mas às vezes saía. E então corria e ia e voltava e adorava o sol, e quando havia relva, cheirar as folhas cheias de seiva, como cheiravam bem! Como o mundo era doce e belo, e podia fazê-la feliz!
A pequena Lua cresce, cresce e acostuma-se à vida que leva. À ração, nem tão saborosa; à liberdade com hora marcada; a não ter bebês. À almofadinha macia onde tece todos os seus brandos pensamentos. E aos humanos.