BRINCADEIRA DE NETO

Chegou o neto com as mãos escondidas nas costas

A língua de lado para fora dos lábios

Cara de quem tá aprontando umas...

Subitamente larga algo sobre a cadeira e correndo até o avô

O obriga a se sentar.

O avô fazendo-se de inocente

Já havia percebido

Porem obediente.

Mal se seta e

“Quim quim quim”

“Quim quim quim”

Apavorado salteia aos berros:

- O que foi isto, meu Deus!?

- É um rato!!! – Apontava e dava gargalhadas o garoto maroto.

E foi quim quim quim pra cá...

Quim quim quim pra lá...

O avô correndo do rato de plástico que resistia a persegui-lo

E o neto correndo atrás do avô com o rato na mão

“Quim quim quim”

“Quim quim quim”

O rato na cabeça do avô

O rato nas costas do avô

O rato na bainha da calça do avô

O rato sobre as pernas do avô

O rato no ombro do avô

O rato dentro da camisa do avô

O rato no dorso da mão do avô

“Quim quim quim”

“Quim quim quim”

Mal se percebeu já anoiteceu

A filha chama o neto para dormir

- Boa Noite meu pai! - Ela diz.

A casa já escura, não havia de costume acender as luzes durante a noite.

Despedido da filha deixou a sala a caminho do quarto

Abriu a porta

Só havia um caminho reto e sua cama logo à frente

Sentou-se nela

Arreou os chinelos

Os pés desciam levemente ao chão quando

“Quim quim quim”

O avô estava cansando de tanto correr do rato

Mas o som lhe era prazeroso

E veio a pensar:

- Quando foi que aquele moleque colocou este brinquedo bem aqui no meu quarto e eu não percebi!?

E ria sozinho o avô:

- Que Astuto...

“Quim quim quim”

E ele pensava, mas não conseguia entender como havia conseguido tal proeza

Mas estava muito cansado para ficar procurando explicações

O neto havia ganhado vantagem

“Quim quim quim”

O avô estava cansado de correr do rato

Mas ali rendido sobre a ponta do dedão do seu pé

“Quim quim quim”

Apertava Levemente sua barriguinha

“Quim quim quim”

O barulho era prazeroso

Trazia lembranças da brincadeira marota do neto

“Quim quim quim”

Na casa ao lado a mãe deitava o filho na cama

Já dormindo, os músculos relaxados

A mão antes em punhos cerrados se abriu

E o rato de borracha sobre a cama caiu

A mãe ao cobrir a criança deu um grito e com um tapa no ato defensivo

A quem uma mãe protege seu filho do perigo eminente

Espatifou o intruso sobre a parede

“Quim quim quim”

“Quim quim quim”

Já com o chinelo na mão tapeou, tapeou

“Quim quim quim”

“Quim quim quim”

Custou a perceber que era de brinquedo o danado do rato...

Agachada estava a mãe

Segurando o chinelo na mão direita

E o brinquedo pendurado pelo rabo estava na mão esquerda

Tão real parecia!!!

E pôs-se em gargalhadas:

- Que menino danado...

O avô haveria em véspera espalhado raticida debaixo dos móveis

Um rato comeu

Vagueou pela casa

E no quarto do avô estava quando já sem forças

Ali deleitava seus últimos suspiros

Submetido ao apertar leve do hálux direito do avô

“Quim quim quim”

Mas o avô não sabia

Estava escuro e não podia ver

E ali ficou a apertar a barriguinha do rato

“Quim quim quim”

Em seus últimos suspiros

“Quim quim quim”

O rato faleceu...

O avô adormeceu...

O dia logo amanheceu

O avô despertou

O rato falecido estava ali no mesmo lugar

E a claridade fez o avô perceber que o rato não era de brinquedo

Assustado!

Encabulado!

Caiu em gargalhadas:

-Aí meu netinho levado...