O DEFUNTO NO ELEVADOR

Saiu da clínica médica

Após 35 minutos de árduo investimento.

Não havia mais jeito

Mais que isto já geraria sofrimento.

José de fará com seus 88 anos

Caquético.

A equipe fatigada e entristecida

Não foi desta vez que sorrisos esplandeciam dos olhares

Estavam os olhares turbados.

Confirmado o ótimo às 17h30min

E ouvisse o barulho perturbador do silêncio

A máscara na face enxugava o suor que escorria.

Levemente, contra a força do ar

Plainava o lençol branco sobre o corpo.

Joana e Mary estagiárias de enfermagem

Em seus límpidos jalecos brancos.

Às 18h saíram a caminho do necrotério situado no térreo

Em uma maca de ferro barulhenta

Puxado em uma ponta e empurrado noutra.

Entraram os três no elevador, o defunto e em cada lado da maca uma estagiária.

Os três comportados em um cubículo no 6º andar do elevador dos fundos.

Era ali que desciam os óbitos.

A porta do elevador se fecha sobre as faces sem expressões

E desce lentamente dando a impressão de estar parado.

De olhos fechados conta aceleradamente até 10, Mary já afoita.

- Não acredito que tá acontecendo comigo - Murmura a outra.

E de repente “plafitit”.

Estava pálida como uma folha de papel manteiga

Os lábios trêmulos não conseguiam pronunciar embora tentassem.

- Seu Zé tira a mão da minha bunda - Soltou subitamente um berro!

Tão alto foi, que soul em todos os andares.

A mão do defunto escorregara e caiu ficando preso os dedos no bolso traseiro de Joana

Que antes de gritar, com muita resistência abaixou a cabeça para ter certeza do que repentinamente havia a tocado.

Só estavam os três naquele cubículo

A maca com o defunto no meio

As estagiárias cada uma em uma ponta.

Joana desgranou a gritar e esmurrar a porta do elevador.

Mary lembrou que não haviam amarrado as mãos do defunto. “Que vacilo”.

Mas não conseguia explicar, pois debruçada estava no chão em um ataque de risos.

Risos que se cessaram exatamente no momento em que sentiu sobreposta em sua cabeça

Uma mão pesada e fria.

“Certamente seria o peso da consciência por estar rindo neste momento?” Pensou Mary na tentativa de negar a realidade.

Mary não tinha forças para se mover.

Os mais longos 35 segundos

E a porta do elevador se abre

Estava a maca do defunto no meio

E duas enfermeiras desacordadas sobre o chão

Estava posta à porta a filha de seu Zé

Vendo aquela sena com os olhos embaçados de lágrimas

Coçou a cabeça e disse aos prantos:

- Desculpas, o papai era claustrofóbico.